Pastor e filho são mortos enquanto violência continua na República Centro Africana

Líderes rebeldes entregam o poder; novo presidente promete punição pelos 'atos de barbárie'

Bangui_518

Rua de Bangui


Um pastor e seu filho estão entre as últimas vítimas da violência na República Centro Africana, que continua apesar da recente nomeação de Catherine Samba-Panza como presidente interina.

O Rev. Pierre-Séverin Kongbo, 52, e seu filho Dieubéni foram mortos em 28 de janeiro por ex-membros do grupo outrora dissolvido Séléka, no complexo da igreja Bégoua no norte de Bangui, a capital. 

Um dia antes, cerca de 600 guardas presidenciais foram transferidos pelas forças Francesas e Africanas do centro da cidade para uma base militar no extremo norte da cidade, na sequência da retirada do presidente Michel Djotodia.

Kongbo e seu filho foram mortos após retaliação dos guardas presidenciais na sequência de um ataque. O pastor, que também era um membro da diretoria da União das Igrejas Batistas na RCA, deixou a esposa e cinco filhos. Ele e o filho foram enterrados no dia 29 de janeiro no complexo da igreja Bégoua.

Sua esposa disse ao World Watch Monitor que os rebeldes haviam visitado sua casa duas semanas antes, perguntando pelo seu marido. Ela lhes disse que o pastor não estava em casa e deu-lhes todo o dinheiro que havia na casa (10.000 CFA ou aproximadamente 15 €).

Em 28 de janeiro, os rebeldes voltaram, gritando "Allahu Akbar" ("Deus é grande"), antes de disparar contra o pastor e seu filho mais velho. 

A República Centro Africana tem sido assolada pela violência desde dezembro de 2012, quando uma coalizão de grupos rebeldes, liderada por Djotodia sob a bandeira Séléka, atravessou o país para, efetivamente, expulsar o presidente François Bozizé em março de 2013.

Djotodia assumiu o controle de um governo de transição, mas perdeu o controle dos soldados do Séléka. Ele dissolveu o Séléka em setembro e renunciou mês passado. A Assembleia Nacional elegeu a presidente Samba-Panza em 20 de janeiro, fazendo dela a primeira mulher presidente da RCA. A violência continuou durante a transição governamental.

No dia 2 de janeiro, explosões e artilharia pesada foram ouvidas em Bangui. Os 5º e 3º distritos administrativos foram as principais áreas afetadas, segundo um morador, cuja identidade não pode ser divulgada por razões de segurança, disse ao World Watch Monitor.

"Nós permanecemos impotentes diante de inúmeros desafios, e muitos de nossos irmãos estão decepcionados, já que não podemos fazer nada por eles em resposta aos seus apelos por ajuda", disse o morador por e-mail. "Muitos perderam tudo, com as suas casas saqueadas ou incendiadas. Outros perderam um filho ou um membro da família. E isto apenas em Bangui. Estamos profundamente preocupados com nossos irmãos das províncias que são forçados a se esconder em arbustos. Nós não ouvimos sobre eles há um tempo."

Desde a renúncia e o exílio do Djotodia para Benin, centenas de ex-membros do Séléka deixaram a capital, deixando desolação em seu rastro. Setenta e cinco pessoas foram mortas semana passada devido à violência sectária na cidade de Boda, 100 quilômetros a oeste de Bangui. Na cidade de Boali, pelo menos sete foram mortos e 700 Muçulmanos procuraram refúgio na Igreja Católica local.

"Eu não vou deixar ninguém machucar as pessoas dentro da minha igreja, não importa se Cristãos ou Muçulmanos", disse o padre Xavier Fagba em uma entrevista à TV Francesa. 

A cidade de Sibut, a 200 quilômetros da capital, foi ocupada e submetida a saques por vários dias, obrigando os moradores a fugir para a selva, de acordo com informações da imprensa local.

Membros do Séléka se retiraram da cidade no momento da chegada das forças Francesas e Africanas. Sua partida tem levantado medo de atrocidades em outras cidades do extremo norte, em direção às quais os ex-rebeldes parecem estar se movendo.

As cidades de Bocaranga e Bria assemelham-se a cidades fantasmas, e dezenas de pessoas temem ser mortas. Cenas semelhantes de desolação foram relatadas em Bouar, perto da fronteira do Chade, onde um grupo de cerca de mil membros do Séléka chegou a bordo de 30 veículos.

"As pessoas estão fugindo. Parece que o Séléka, em seu caminho de volta para o Chade, está queimando aldeias por onde passa. Roubaram veículos pertencentes aos sacerdotes locais", disse uma fonte local, cuja identidade está sendo mantida em sigilo para proteger a sua segurança.

Samba-Panza denunciou fortemente a violência em curso em Bangui e cidades do interior, em um discurso televisionado no dia 31 de janeiro. "Nada vai justificar tais crimes e atos de barbárie", disse ela. "Portanto, é inaceitável que as mortes continuem. Eu não posso tolerar tais atos e não ficarão impunes".

Mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas e 2 milhões necessitam de ajuda humanitária urgente, de acordo com agências humanitárias. 

Cerca de 1.600 soldados Franceses e 4.000 forças lideradas pela África foram implantados na RCA, mas as Nações Unidas recomendam que 10.000 soldados sejam necessários no país, que é tão grande quanto a França, Bélgica, Dinamarca e Luxemburgo juntos.

A conferência de doadores realizada em 01 de fevereiro na capital da Etiópia, Adis Abeba, já arrecadou mais de 300 milhões de dólares para assegurar o financiamento das forças lideradas pela África.

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FONTE: World Watch Monitor
TRADUÇÃO: Felipe Augusto l ANAJURE

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