Bangladesh – Líderes de protesto Islâmico são presos durante cerco a Dhaka

Por W. Jackson 

Mercado de gado em Dhaka, retratado em 2008                                             Mercado de gado em Dhaka, retratado em 2008

 

A Primeira Ministra alega que a oposição usou as exigências islâmicas para desestabilizar o governo

 

A Primeira Ministra de Blangladesh, Sheikh Hasina, alegou, em 17 de maio, que o partido de oposição – (Partido Nacionalista de Bangladesh (PNB), foi responsável por uma conspiração visando derrubar o governo do poder, usando protestos violentos que recentemente assolaram Bangladesh, liderados pelo Hefazat-e-Islam.

"O partido de oposição tentou utilizar-se do Hefazat – uma associação de instituições pan-islâmica – para conseguir o poder, mas se há apoio público e o povo permanece ao nosso lado, nenhuma conspiração pode funcionar, quer seja nacional ou internacional", disse ela.

Mas, uma líder sênior do PNB alegou que a decisão dela de proibir comícios políticosem Dhaka para o próximo mês é um estratagema para preparar o terreno para a imposição de um estado de emergência.

"Eles proibiram comícios e encontros para reprimir a oposição. Tudo o que nos resta é impor um estado de emergência", disse MK Anwar na segunda, 20 de maio, assim que a decisão do Sheik Hasina veio à tona, recebendo duras críticas vindas até mesmo de dentro de seu próprio partido, Awami League.

Um porta-voz do Hefazat-e-Islam (Protetorado do Islam) prometeu parar seus protestos em massa, mas continua a acusar missionários cristãos de "perseguir" pessoas pobres e pressioná-las a se converter.

Após a prisão de três líderes Hefazat no domingo, (19 de maio), Maulana Ashraf Ali Nizampuri declarou ao World Watch Monitor que o grupo Islâmico “não tinha planos” para novos protestos.

Muitos de nossos líderes foram presos, e uma onda de medo de novas prisões tomou conta de nossos outros líderes, então nós adiamos uma investida a nível nacional que estava planejada para 12 de maio," disse ele.

Os três líderes Hefazat presos em 19 de maio foram acusados de assassinato, roubo e posse de explosivos, depois que o grupo liderou um cerco à capital Dhaka, em 5 de maio, durante o qual pelo menos 11 pessoas foram mortas.

Sediada nos EUA, a Human Rights Watch, declarou, em 11 de maio, que o real número de mortos era "impreciso, com estimativas que variam de 22 mortos na nação, de acordo com dados oficiais do governo, até a estimativa de milhares, do Hefazat". Fontes independentes de notícias cogitam que o número de mortos é de aproximadamente 50, incluindo vários agentes de autoridade.

Em abril, ativistas do Hefazat haviam organizado o maior encontro político do país em décadas para publicar um documento com treze tópicos que trazia demandas, incluindo a introdução de uma lei relativa à blasfêmia, para punir aqueles que profanam o Islã e seu profeta Maomé.

Quatro blogueiros foram presos em abril por supostamente terem incluído elementos difamatórios e anti-Islâmicos em seus blogs. De acordo com a lei existente em Bangladesh, qualquer um condenado por difamar uma religião na internet pode ser preso por até 10 anos.

A problemática dos blogs só veio à tona depois que um grupo de ativistas tomou as ruas de Dhaka em fevereiro para exigir a pena de morte para o líder do Jamaat-e-Islami (maior partido islâmico de Bangladesh), Abdul Kader Mullah. Ele havia sido condenado à prisão perpétua em 5 de fevereiro por cometer homicídio em massa, estupro, saques e outros crimes contra a humanidade durante a guerra de libertação de Bangladesh contra o Paquistão, em 1971.

Dezenas de milhares protestaram na área de Shahbagh, no centro de Dhaka, por considerarem esse (um dos três possíveis vereditos) muito brando. Eles exigiam que todos os criminosos de guerra deveriam receber a mais alta pena: sentença de morte.

Antes do cerco a Dhaka, Sheikh Hasina havia tornado clara a posição do governo no que diz respeito à proibição de conversões religiosas e outras demandas do Hefazat.

"Todos em Bangladesh tem liberdade religiosa", disse Hasina, em uma coletiva de imprensa realizada em sua residência oficial, na noite anterior ao cerco.

A constituição de Bangladesh declara que todo cidadão possui o direito a "professar, praticar e propagar" qualquer religião, e que toda comunidade e denominação religiosa tem o direito a estabelecer, manter e gerir suas instituições religiosas.

Entretanto, Hasina observou que converter forçosamente pessoas de uma religião a outra é uma ofensa passiva de punição por lei, e prometeu que o governo estaria monitorando as ações de organizações estrangeiras.

"Os agentes de autoridade estão observando as ONGs (organizações não governamentais) que estão supostamente convertendo pessoas, tirando vantagem do fato de serem pobres," disse Hasina.

Ainda assim, apesar da promessa de não haver mais protestos em massa, Nizampuri, do Hefazat-e-Islam, continua a acusar missionários cristãos de "perseguirem" pessoas pobres e oferecer-lhes dinheiro para "pressioná-las" a mudar de religião.

"A maioria dos missionários cristãos estão convertendo pessoas oferecendo dinheiro entre os pobres, para dar-lhes um impulso," disse ele. "Assim que os pobres recebem o dinheiro, os missionários os pressionam a se converter. É por isso que estamos protestando – para impedir que os missionários as convertam."

Entretanto, o pastor de Bangladesh, James Saberio Karmoker, disse que as acusações do Hefazat são apenas boatos.

"Os missionários cristãos não estão convertendo pessoas à força" disse o Rev. Karmoker, que é o secretário geral da União Nacional de Cristãos de Bangladesh. "Isso é boato do Hefazat".

"A conversão não é um evento no qual missionários entregam dinheiro e as pessoas se convertem. Mas um longo processo. Quando a fé em Cristo cresce nas pessoas através de um longo processo de propagação, e elas vêm a proclamar sua fé em Cristo, só então passamos a nos ater às formalidades da conversão. A conversão não pode ser feita à força; caso contrário haveria um motim."

Sheik Hasina tem liderado um governo secular no país de maioria islâmica desde 2009.

A Comissão Americana para Liberdade Religiosa Internacioanal – USCIRF, em inglês) removeu Bangladesh de sua Lista de Monitoramento após a convincente vitória do Liga Awami da Sheikh Hasina, na eleição geral de 2008. Seu partido de centro-esquerda é conhecido por promover políticas seculares e ser favorável aos direitos das minorias. O anúncio de Hasina referente à implementação de reformas para assegurar a liberdade religiosa foi outro motivo para que Bangladesh fosse retirada de sua lista.

Das 152.5 milhões de pessoas em Bangladesh (UN, 2012), Muçulmanos compõem cerca de 88% e o percentual restante está dividido entre Cristãos (1%), Budistas e Hindus.

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FONTE: World Watch Monitor
TRADUÇÃO: ANAJURE

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