Conflito na República Centro-Africana é “político, não religioso”

Líder protestante da RCA diz que luta é pelo acesso aos recursos

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O homem escolhido para liderar o que ele diz ser 51% da população da República Centro-Africana (RCA), os protestantes, diz que o conflito no país não tem nada a ver com religião.

Nicolas Guerékoyamé-Gbangou, professor convidado da Escola de Londres de Estudos Orientais e Africanos, disse esta semana que a luta entre os membros do grupo rebelde dissolvido Séléka e os anti-balaka (milícias de autodefesa) não é uma batalha entre Muçulmanos e Cristãos.

"Não há nenhuma milícia Cristã e não há milícia Muçulmana também… Este conflito não é religioso", disse ele, explicando que as milícias anti-balaka foram desenvolvidas a partir de grupos de autodefesa da aldeia local, originalmente formada contra ladrões de gado e bandidos. Ele acrescentou que cerca de 90 por cento dos Séléka era composta de estrangeiros dos vizinhos Chade e Sudão.

Tem sido amplamente divulgado na mídia que o conflito tomou um tom religioso claro, com o grupo Séléka referido como uma força Islâmica voltada para transformar o país em um Estado Islâmico, e o anti-Balaka chamado de milícia "Cristã".

No entanto, Guerékoyamé-Gbangou diz que o conflito é realmente uma batalha pelo controle do nordeste do país, rico em recursos. "A maioria dos recursos do local estão concentrados no nordeste, na região do [ex-presidente da RCA] Michel Djotodia. Isto é o que levou à rebelião no nordeste. Ele tem sido negligenciado por décadas. E [a briga por esta região] começou no período colonial, então, o que tem a ver com o Cristianismo ou Islamismo? As pessoas querem explorar os recursos naturais, mas não querem desenvolver a região, porque, se for desenvolvida, vai atrair muitas pessoas, e muitos investidores. [Os líderes na capital] preferem deixar a região, sabendo que apenas os mais fortes terão acesso aos recursos." 

Guerékoyamé-Gbangou acrescentou que seria errado considerar a RCA dividida apenas entre Cristãos e Muçulmanos. “Não há apenas Cristãos e Muçulmanos”, disse ele. “Há também Animistas, Budistas e pessoas de outras religiões também. O conflito não é religioso, é político. Aqueles que lideraram o país não compartilharam seus recursos e riqueza”.

Após a palestra, ele foi perguntado por que, se os Cristãos da RCA compreendem mais de 76% da população (com, segundo ele, 29% deles sendo Católica, e o resto Evangélica Protestante), o país tem todas as sementes para um genocídio, de acordo com o Diretor de Operações para a Coordenação dos Assuntos Humanitários do Escritório da ONU.

Em resposta, o líder da Aliança Evangélica disse que a maioria dos Cristãos comprometidos não têm se envolvido ativamente na política da RCA nos últimos 20 anos, e por isso não têm sido capazes de ser influentes no governo do país. Ele lamentou o fato, dizendo que esse é motivo pelo qual ele próprio é um membro ativo do Parlamento.

Enquanto ele estava em Londres, World Watch Monitor facilitou a extensa entrevista do Rev. Nicolas de Guerekoyame-Gbangou para o programa da BBC World Service 'Outlook' na segunda, 20 janeiro de 2014. 

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FONTE: WORLD WATCH MONITOR
TRADUÇÃO: FELIPE AUGUSTO

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