"Erga a voz:" A violência, a ideologização do debate e uma oportunidade para a igreja cristã

Por – Pr. Franklin Ferreira

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“A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência” (Gn 6.11).
“Eis que clamo: violência! Mas não sou ouvido; grito: socorro! Porém não há justiça” (Jó 19.7).
“O Senhor põe à prova o justo e ao ímpio; mas ao que ama a violência a sua alma o abomina” (Sl 11.5). 
“Vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos” (Ec 4.1).
“Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita” (Hb 1.2-3).

 

Dando nome à tragédia

A melhor forma de abordar o tema da violência é começar por relembrar reverentemente as vítimas – que, pelo menos nesta vida, não receberão a justiça e vindicação que elas merecem. Em 29 de novembro de 2005, ocorreu o impensável no país. Cinco pessoas, inclusive uma criança de um ano e dois meses de idade, morreram queimadas dentro de um ônibus na Penha, subúrbio norte do Rio de Janeiro.1  Esse bárbaro assassinato elevou a violência a um novo e assustador patamar no Brasil, qual seja, o da banalização da vida humana e da crueldade sem limites. No ano seguinte, em 28 de dezembro de 2006, sete pessoas morreram carbonizadas em um ônibus da Viação Itapemirim que foi incendiado no viaduto que liga a Rodovia Washington Luiz à Avenida Brasil, no município do Rio de Janeiro.2  Em 7 de fevereiro de 2007 o menino João Hélio, que tinha seis anos de idade, foi assassinado após um assalto. Os assaltantes (inclusive um menor de idade) arrastaram o menino preso ao cinto de segurança pelo lado de fora do veículo. Em 9 de abril de 2013, um adolescente de 17 anos matou o universitário Victor Hugo Deppman durante um assalto na região do Belém, em São Paulo. A dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza foi queimada viva durante um assalto dentro de seu consultório, em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, em 25 de abril de 2013. Um dos criminosos era um menor de idade. Em 3 de junho, faleceu o dentista Alexandre Peçanha Gaddy, queimado durante um assalto em seu consultório no dia 27 de maio de 2013, em São José dos Campos, interior paulista. 

Outros casos e nomes de vítimas poderiam ser mencionados. Mas esses são centenas de milhares. E esta violência não está circunscrita a credo religioso, etnia e classe social – ou, neste último caso, quase, como veremos abaixo. E a maioria dos criminosos fica impune, seja pela ineptidão da policia, fria morosidade do sistema judiciário (cf. Sl 82.1-8; Ec 8.11),3  falência do sistema carcerário ou mesmo pela indiferença do legislativo, que não apresenta uma resposta à altura a esta onda crescente de barbárie e violência. Os impostos altíssimos consomem, em média, 40% da renda bruta do trabalhador, o governo é perdulário e os serviços públicos são completamente ineficientes. Constata-se que o establishment se tornou incompetente e obtuso, podendo bem ser chamado de “sociedade incivil”, pois produziu no país uma classe governante que perpetua seus privilégios e coloca seus interesses acima do povo, recompensando a lealdade e punindo tudo o mais.4  Nesta conjuntura, instalou-se no país uma síndrome do medo associada à violência, e, por conta da omissão do Estado, não se tem perspectiva alguma de melhora nessa conjuntura em curto ou médio prazo.

A espiral da violência: 1980-2010

Os registros do Subsistema de Informação sobre Mortalidade (Ministério da Saúde) mostram que, entre 1980 e 2010, 799.226 cidadãos no Brasil morreram por disparos de algum tipo de arma de fogo. Nesse período, as vítimas passaram de 8.710 em 1980, para 38.892 em 2010, num crescimento de 346,5%.5  Numa tentativa de chamar a atenção para a violência no país, os coordenadores do Mapa da Violência fizeram um quadro comparativo da realidade nacional com as mortes ocorridas nas principais guerras dos últimos anos.

mapa violenciaO número de assassinatos no Brasil, entre 2004 e 2007, é maior que as baixas em doze dos maiores conflitos militares no mesmo período: as guerras provocaram a morte de 169.574 pessoas, enquanto no Brasil 192.804 pessoas foram assassinadas a tiros. Como diz o coordenador do Mapa da Violência 2013, Julio Jacobo Waiselfisz, “no Brasil, país sem disputas territoriais, movimentos emancipatórios, guerras civis, enfrentamentos religiosos, raciais ou étnicos, morreram mais pessoas vítimas de homicídios que os 12 maiores conflitos armados do mundo”.6  Ainda que precisem ser levadas em conta as diferenças demográficas entre estes países, os números de mortos no Brasil são escandalosos.

Segundo dados do Ministério da Justiça, a população carcerária no Brasil é de 548 mil pessoas, sendo que os presídios e cadeias dispõem de apenas 310 mil vagas.7 E segundo dados obtidos a partir dos mutirões carcerários desenvolvidos pelo Conselho Nacional de Justiça, os índices de reincidência variam entre 60% e 70%, um dos maiores do mundo. Na atualidade há no país 75.000 pessoas cumprindo pena em regime semiaberto, sendo que, no ano de 2012, 5,1% dos que tiveram direito à saída temporária não retornaram às celas.

Ideologia e a interdição do debate

O que se conclui da crescente violência é que nosso sistema legal/penal é voltado para a defesa e proteção do criminoso.8  O sistema político sequer representa adequadamente o desejo da população por segurança, e a maioria dos governantes adere ao ideário esquerdista e segue incapaz de enxergar a individualidade da culpa. Mesmo as igrejas cristãs, que poderiam fazer a diferença, estão, em parte, infectadas pelo pensamento dito “progressista”, que não permite o avanço ou aprofundamento do debate.

Historicamente faz parte da essência de partidos esquerdistas associarem a ideologia ao crime: o traficante é vítima (do capitalismo), o menor assassino é vítima (da sociedade), o assaltante é vitima (da desigualdade social), os “mensaleiros” do PT são vítimas (de uma armação de reacionários). Mas a explicação para essa mentalidade é simples: desde a revolução soviética de 1917 isso acontece. Os comunistas chamavam os criminosos da época de “socialmente próximos” (sotsialnoblizkii).9  A mesma visão é replicada na atualidade pelos esquerdistas dos trópicos.

Neste contexto, a culpa parece ser sempre da vítima. O bandido se tornou o herói em nossa cultura, e a polícia é vista apenas como o aparelho repressor do Estado. Numa reedição do antigo conflito de classes, quem trabalha, estuda e leva uma vista honesta é visto por ideólogos e partidários da esquerda como alguém que deve ser punido pelos criminosos e pela indiferença estatal – ou seja, para esses, o bom é ser bandido e/ou depender do dinheiro público fornecido generosamente pelo Estado.10  Os esquerdistas têm as desculpas prontas para justificar a leniência da justiça brasileira e os atenuantes para os perpetradores de crimes bárbaros, pois para esses os crimes são interpretados como “luta de classes”, não se pode mudar o código penal no “calor da comoção” e a redução da maioridade penal é “quase” cláusula pétrea constitucional.11 

Vive-se um paroxismo absurdo onde o debate sobre a violência foi interditado pela adesão religiosa a uma ideologia. Não se pode nem se deve discutir a questão da maioridade penal sob o impacto da comoção e, portanto, não se deve discutir a garantia de que o autor de um “ato infracional” estará em liberdade em pouco tempo, porque é isso que lhe garantem a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente.12  Para os esquerdistas, prontos para livrar os indivíduos do peso da responsabilidade ética e transferi-la integralmente para a sociedade,13  propostas de mudança no Código Penal ou a discussão da maioridade penal são “oportunistas”. Mas, num país onde se cometem cerca de 40.000 assassinatos por ano e onde um assassino “assessorado por um advogado medianamente competente volta para a rua depois de cumprir um sexto da pena”, vai ser difícil, como conclui Sandro Vaia, “achar um momento que não seja ‘oportunista’ para debater a eficácia das leis”.14 

Infelizmente a discussão é bem mais ampla e poucos em nossa sociedade estão dispostos a dela participar. Alguns que tentam são logo silenciados pelos esquerdistas e “cristãos progressistas” (curiosamente, assim eram conhecidos os católicos poloneses que apoiavam o fascismo, no período entreguerras, e o comunismo, no pós-guerra),15  ou apelando-se para a necessidade de não se ter debate no “calor da comoção” ou por se rotular os oponentes como “fascistas”.16  Os que têm certo destaque nos meios de comunicação geralmente são os pró-bandidos “coitadinhos”, “oprimidos” por um sistema social injusto e opressivo que os deixou sem escolha a não ser matar, torturar e estuprar. 

Mas a pergunta se impõe: haverá algum avanço na área de segurança pública com essa mentalidade no poder? Dificilmente, pois a classe política e aqueles que servem no aparelho estatal são a elite intocável, a “sociedade incivil”, andando em carro blindado, protegida por seguranças, abrigada em suas capitanias hereditárias, enquanto a maior parte da população do país vive refém da violência.17  Esta casta superior de um país partido leva uma vida burguesa, enquanto posa de esquerdista com “consciência social”, asseverando que a sociedade deve criar condições plenas para que o homicida seja feliz para somente depois puni-lo por assassinar uma pessoa indefesa. 

Como não se resolve como chegar à sociedade plenamente justa, harmônica e feliz, pois esta está oculta nos “arcanos ideológicos” que inspiram esse pensamento, deixam-se os crimes impunes e as vítimas sem justiça. Se criminalidade diminuísse por uma questão de melhor educação, bem-estar social (welfare state) ou desenvolvimento econômico os países do primeiro mundo não teriam violência e crime. Portanto, as raízes da violência e criminalidade precisam ser procuradas em outra fonte, isto é, na maldade intrínseca aos seres humanos, que polui o meio onde este se encontra.

Nos Estados Unidos, Reino Unido e Europa a punição de um crime não se dá pela idade do autor, mas de acordo com a gravidade e crueldade do crime que ele cometeu.18  Mas, como vão afirmar aqueles que se acham detentores das boas intenções,19  mas que desprezam punir assassinos, deixar bandidos sem punição, soltos nas cidades, é “justa violência revolucionária”.20  Mas que ninguém se engane: o sangue das vítimas está nas mãos destes, e Deus irá requerer isso deles (cf. Ez 35.6).

Em termos bíblico-teológicos, a segurança é obrigação legítima do Estado (cf. Rm 13.1-7). Só que o mesmo Poder Público que impede que o cidadão se defenda,21  não lhe dá a devida segurança e nem desestimula o crime por meio de punições severas. Portanto, a mentalidade esquerdista rebaixou a política de segurança – e a política em geral – ao nível mais baixo da história da República. Os números de assassinatos anuais não decrescem, só aumentam; os números do desarmamento são usados ideologicamente;22  pelas fronteiras entram armamentos militares que rapidamente chegarão às mãos dos traficantes; no Rio de Janeiro, a pacificação iniciada em 2011 não acabou com os bandidos, eles somente mudaram de cenário; na Bahia, em fevereiro de 2012, foram assassinadas 153 pessoas durante dez dias de greve das forças de segurança, etc. As manchetes sobre o aumento da violência se sucedem, numa dança da morte que vai se tornando monótona e, por assim ser, dessensibilizando a sociedade.

Deve-se lamentar profundamente que os governantes sequer venham a público para explicar o inexplicável ou, pelo menos, se colocar ao lado dos que sofrem. Embora se saiba das especificidades constitucionais no trato da segurança pública, deve-se lamentar que os governantes municipais, estaduais e da federação não ofereçam uma palavra oficial de indignação. Isso é revoltante! Com tal indiferença, sugerem, ainda, que a vida das pessoas comuns pouco ou nada vale, e nem diz respeito a ninguém da esfera pública. Lamenta-se que aqueles que têm desempenhado funções no Legislativo e no Executivo revelem questionável competência  para governar os municípios, os estados e o país, espelhando um triste legado que insiste em se perpetuar na política brasileira.

Por fim, até recentemente a população brasileira parecia conformada, sem esboçar reação diante da violência e corrupção. Mas, desde o início de junho deste ano estão ocorrendo as maiores manifestações no Brasil desde os protestos de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil, em 1984, e o impeachment de Fernando Collor da presidência da República, em 1992. Estas manifestações começaram em São Paulo e se espalharam por vários estados, e atos em solidariedade foram realizados em cidades na Europa, Reino Unido e Estados Unidos, desencadeando uma crise social e política como há muito tempo não se via.23 Embora haja uma pluralidade de ideais e objetivos nestes protestos, todos têm um denominador comum: repulsa ao desrespeito do ente estatal para com as pessoas, isto é, a completa falta de retorno que há para os cidadãos que, ao pagar inúmeros impostos, recebem em troca corrupção, insegurança, educação e saúde de má qualidade.  Ainda que partidos políticos e movimentos sociais de esquerda e extrema-esquerda tentem controlar (Gleichschaltung) as manifestações, estas, parece, assumiram no país inteiro um caráter apartidário, mas não antipartidário – e deve-se sempre lembrar que partidos e políticos são vitais ao regime democrático. No entanto, precisamos de mais atitudes que afetem de forma significativa nossa rotina, como passeatas pacíficas, suspensão de eventos festivos, e outras ações que deixem bem claro que algo muito grave está acontecendo no país. Os cidadãos deste país devem continuar protestando e clamando: “Chega de impunidade, chega de violência, chega de incompetência!”
 

A igreja diante da violência

Diante deste quadro, deve-se perguntar: diante desta conjuntura, os cristãos devem agir individualmente ou por meio da igreja local? Qual é exatamente o papel da igreja diante da violência?

Deve-se começar por enfatizar que não podemos alternar “igreja” e “cristãos”, usando essas palavras como sinônimas. Precisa-se, portanto, distinguir entre as formas de ministério e serviço em que a igreja cristã – enquanto igreja – se envolve e as formas de ministério e serviço em que os cristãos – que pertencem a essas igrejas – se envolvem. Ao definirmos “igreja”, pode-se lembrar de que, em termos confessionais, duas marcas caracterizam a verdadeira igreja cristã: a Palavra de Deus pregada e ouvida em toda a sua pureza e a correta administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor. Como ensina o artigo sobre a Igreja (VII), na Confissão de Augsburgo (1530):
 

Ensina-se também que sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a congregação de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho.

Portanto, devemos distinguir a missão da igreja e o dever dos cristãos. Se a igreja permanecer igreja cristã, os cristãos, ouvindo a pregação do evangelho, entenderão que é sua tarefa demonstrar misericórdia, cuidar dos pobres, preocuparem-se com questões de justiça, fazer “o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10).

A igreja cristã precisa voltar a ser igreja cristã. A verdadeira igreja é alicerçada pela e na Palavra de Deus. E a igreja cristã, que é comunidade da Palavra e do sacramento, será comunidade da cruz. Portanto, diante da cacofonia de vozes que se instalou entre os evangélicos no Brasil, isso precisa ser dito, com toda a seriedade: se uma comunidade que se quer ser igreja abandona estas marcas — a pregação da Palavra e a correta administração dos sacramentos – deixa de ser igreja cristã, se tornando, quando muito, uma ONG piedosa. Mas não mais igreja cristã, sob Cristo, sob a cruz. Como disse o Papa Francisco I em sua primeira homilia:
 

Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. (…) Quando não [se] confessa Jesus Cristo, confessa[-se] o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio. (…) Quando caminhamos sem a cruz, edificamos sem a cruz ou confessamos um Cristo sem cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, (…) não discípulos do Senhor. (…) Eu queria que (…) todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo crucificado. E assim a Igreja vai para diante.24

A igreja cristã deve permanecer igreja cristã. E assim, se permanecer fiel ao seu chamado, chamado este feito pelo próprio Deus-Trindade em sua santa Palavra, esta igreja deve moldar todas as áreas da vida do cristão por meio do anúncio do evangelho.

O conceito de “soberania das esferas” criado por Abraham Kuyper pode nos guiar nesta questão. Ele enfatizou que, enquanto a igreja permanece igreja, esta capacita os cristãos a que se dediquem, para a glória de Deus, ao entretenimento, educação, política, família, tudo isso de maneira distinta da missão da igreja. Portanto, uma igreja cristã, radicalmente fundamentada nas Escrituras, produzirá pessoas que mudam a sociedade, ainda que a igreja – enquanto igreja – não se engaje diretamente nesses empreendimentos. Devemos, então, reafirmar a distinção entre a igreja — enquanto ajuntamento definido pela Palavra e sacramentos — e o papel dos cristãos no reino de Deus, onde esses agem no mundo como indivíduos e por meio de agências e organizações voluntárias, fazendo “o bem a todos” (cf. Gl 6.10).

Portanto, as igrejas, sob a direção de seus pastores, devem assistir aos seus próprios membros e de outras igrejas coirmãs (cf. 1Co 16; 2Co 8-9), e os cristãos, estimulados por tal procedimento, devem demonstrar misericórdia aos seus bairros e cidades, como forma de revelar ao mundo o reino de Deus.25  E, quando os cristãos estiverem diante de projetos de reforma social, devem trabalhar com associações e organizações, e não diretamente com a igreja, a comunidade da Palavra e dos sacramentos. Mas alguns cristãos devem trabalhar por uma reforma social mais ampla.26  Aplicando a distinção de esferas à temática da violência, Tim Keller escreve:
 

Dissemos que há três ‘dimensões’ de fazer justiça e ajudar os necessitados. Além de assistência e desenvolvimento (tanto individual quanto corporativo), existe a reforma social. Essa reforma vai além de assistência às necessidades imediatas e dependência; ela busca transformar as condições e estruturas sociais que agravam ou causam essa dependência. Imagine uma sequência para a parábola do bom samaritano. Os meses passam, e, toda vez que viaja pela estrada que vai de Jerusalém a Jericó, o samaritano encontra alguém que foi roubado na estrada todo machucado, sangrando. Um dia, ele pergunta: ‘Como vamos dar fim a essa violência toda?’. A resposta seria fazer algum tipo de reforma social — instituir um novo acordo social que interrompa o fluxo de vítimas por meio de mudança nas condições sociais. Às vezes, a reforma social que funciona é simplesmente colocar mais policiais nas ruas. (…) Essa abordagem vai além de simplesmente ajudar pessoas. Busca mudar acordos e instituições sociais. Em alguns casos, envolve até mudança de leis.27


O Grupo de Clapham, cuja figura de maior destaque foi William Wilbeforce, afirmou a fé cristã com vigor e engajou-se vitoriosamente em lutas importantes e necessárias no Império Britânico, no século XIX. A partir da noção de separação de esferas, este grupo trabalhou pela abolição da escravatura, fundação de escolas cristãs para os pobres, reforma das prisões, combate à pornografia, realização de missões cristãs no estrangeiro e ênfase na liberdade religiosa. Este movimento permanece como um modelo para cristãos que queiram se engajar na reforma social.

À igreja cristã é exigido dar uma palavra sobre a violência – especialmente quando se leva em conta o quanto as Escrituras tratam deste pecado: “Assim diz o Senhor: executai o direito e a justiça, e livrai o oprimido da mão do opressor; não oprimais ao estrangeiro nem ao órfão, nem à viúva; não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste lugar” (Jr 22.3). Mas a igreja só conseguirá fazer isso com fidelidade à Palavra de Deus, se voltar a ser igreja cristã – e pastores precisam voltar a ser pastores, edificando o corpo de Cristo (cf. Ef 4.11-16), para que este de fato expanda o reino de Deus neste país.

A igreja cristã se quer ser igreja cristã precisa reintroduzir noções bíblicas como pecado original e pecado pessoal no discurso público, ao mesmo tempo em que se fala do pecado nas estruturas sociais e políticas, assim como da responsabilidade moral que toda pessoa criada à imagem de Deus (cf. Gn 1.26-27) tem diante dele e de seus semelhantes. Isso deve ser dito com seriedade: Deus está irado com aqueles que permanecem em seu pecado (cf. Jo 3.36). Somente a afirmação pública do realismo bíblico sobre a tragédia do pecado, da transgressão e da iniquidade será capaz de refutar o utopismo ingênuo dos esquerdistas.28 

Se o pecado é um poder desfigurador, a igreja também deve enfatizar o poder renovador da aliança, da graça e da justiça de Deus. Pois será o ensino cristão sobre o sacrifício vicário de Cristo na cruz e sua ressurreição dentre os mortos, assim como a justificação concedida pela fé a pecadores que pode estabelecer uma cultura de paz (shalom) verdadeira (cf. Rm 4.24-25; 5.1), também para as vítimas e os perpetradores de violência, que se evidenciará por meio de arrependimento, conversão, reconciliação e perdão.29 E a ênfase na obra do Espírito Santo poderá conduzir os cristãos a se dedicarem a obras de compaixão entre as vítimas da violência.

Os temas bíblicos da aliança e do federalismo podem ajudar os cristãos a despertar a sociedade civil a buscar ações de reparação de danos contra o Poder Público, acionando o Ministério Público para interpor uma Ação Civil Pública em casos relacionados à segurança pública ou mesmo propor uma Ação de Improbidade Administrativa de governadores e prefeitos. Também precisa ser enfatizada nas igrejas a necessidade do voto consciente, opondo-se ao “voto de cajado”, e aos arranjos institucionais entre igrejas (ou denominações) e políticos (ou partidos políticos), que é causa de corrupção em nosso meio. Na verdade, é constrangedor o modelo de políticos evangélicos brasileiros que, em geral, são populistas, amadores e despreparados. Sua permanência no poder tem se dado em função do uso e abuso de clichês cristãos, da prática do assistencialismo, bem como do desprezo pelo nome de Deus, usado com fins eleitoreiros. Também se criou uma visão reducionista de causas políticas cristãs, restritas apenas à luta contra a homossexualidade e o aborto. A corrupção e a violência parecem ser temas que não entraram na agenda desses políticos. Assim sendo, eles traem uma importante herança da tradição evangélica: políticos cristãos comprometidos com a glória de Deus e com a promoção do bem-estar na sociedade. Isso ocorre, parece, porque as exigências do evangelho de Cristo foram banalizadas, reduzidas a um moralismo seletivo (cf. Cl 2.18-23), a serviço ou da mensagem da prosperidade, ou cativa à ideologia esquerdista.

As igrejas cristãs devem, em cultos públicos, confessar seus pecados e iniquidades, assim como as transgressões cometidas no país, suplicando pelo derramamento do Espírito Santo sobre o corpo de Cristo. De acordo com as Escrituras, Deus tem prazer em atender as orações de seu povo, inclusive para mudar os rumos de um país ou região (cf. 2Cr 7.13-14). Pode-se aprender isso na história da Europa Central em 1980-1989: o cardeal Stefan Wyszyński conduziu a Igreja Católica na Polônia durante os anos negros do comunismo naquele país, pregando “não apenas sobre justiça social e dignidade do trabalho (…), mas também sobre valores morais absolutos e universais, a inviolabilidade da consciência individual, e a fé na encarnação de Deus em Cristo como alicerce do humanismo genuíno”;30  o bispo da Igreja Reformada na Romênia László Tőkés, por meio de suas pregações contra a violência e a pobreza na cidade de Timişoara, foi essencial na queda do totalitarismo comunista naquele país; o pastor da Igreja Evangélica (Luterana), Christian Führer dirigiu durante quase dez anos reuniões de “orações pela paz” às segundas-feiras, na Igreja de São Nicolau, em Leipzig, fundamentais na derrubada pacífica do regime comunista no leste da Alemanha.31  Como diz a Escritura: “‘Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito’, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4.6 NVI).

Por fim, diante de Deus, o justo juiz, deve-se reintroduzir o ensino de que haverá descanso e conforto eterno para aqueles que estão em Cristo pela fé somente, e punição eterna para aqueles que permanecem em seus pecados,  inclusive pelo uso da violência: “Quanto, porém, (…) aos assassinos, (…) a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte”. Cristãos estão obrigados à esperança. Portanto, esperam a ressurreição do corpo e “novo céu e nova terra”, onde “estará o trono de Deus e do Cordeiro”, quando serão feitas “novas todas as coisas”, e aqueles que ali estiverem terão enxugadas “dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”. Podem ter confiança nestas promessas por causa da palavra régia: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida” (Ap 21.1, 4-6, 8; 22.3).

Portanto, os pregadores do evangelho são instrumentais para que os membros de uma igreja cristã, fundamentada e obediente à Palavra de Deus dada aos profetas e apóstolos (cf. Ef 2.20; 3.5; 4.11), sejam despertados para a reforma social. Esta mensagem deve ser dirigida não a um establishment surdo, mas à sociedade mais ampla, de forma apartidária. Pois o que se precisa é de uma transformação que comece não de cima, da perspectiva dos poderosos ou pelo uso de instrumentos políticos de poder, mas de baixo, da fraqueza, da súplica, da identificação sofredora com as vítimas e com os que sofrem.

Em tudo isso, a igreja cristã deve reafirmar seu compromisso de interceder em favor de todos, também por aqueles que foram atingidos pela violência, assim também por aqueles que “se acham investidos de autoridade” a fim de que sejam chamados à responsabilidade, “para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2.1-2). E que os cristãos alcancem mais sabedoria na escolha dos próximos governantes, objetivando ter, nesta posição, políticos que, de fato, sirvam ao país.

Que Deus desperte os pastores para que esses honrem seu chamado sagrado, pois estes são instrumentais na edificação de uma igreja cristã que se postará contra um Estado que quer ser total, que almeja dirigir todas as esferas da existência, ao mesmo tempo em que trai a nação ao não ser a autoridade instituída por Deus, ministro para o bem, e que castiga “o que pratica o mal” (cf. Rm 13.4). Como Karl Barth escreveu:
 

Por isso a igreja e a teologia não podem entrar em hibernação quando há um Estado total, conformando-se com uma moratória e alguma adaptação forçada. Elas são a fronteira natural também do Estado total. Pois também no Estado total o povo vive da palavra de Deus, cujo conteúdo é: ‘remissão dos pecados, ressurreição do corpo e vida eterna’. A igreja e a teologia devem servir a essa palavra, em favor do povo. Por isso são a fronteira do Estado. Elas o são para a salvação do povo, para aquela salvação que nem o Estado nem a igreja podem criar, mas que a igreja é vocacionada a proclamar. Ela deve poder ficar fiel e querer ficar fiel a esse seu objeto particular. O teólogo deve permanecer vigilante, em sua atribuição específica: um pássaro solitário no telhado, portanto sobre a terra, mas sob o céu aberto, ampla e incondicionalmente aberto. Ah, que o teólogo evangélico (…) queira permanecer vigilante ou, se porventura tenha estado dormindo, que queira ficar vigilante hoje, hoje de novo!32 

Se pastores honrarem seu chamado a serem ministros da Palavra de Deus, podemos ter esperança de uma renovação da pregação da lei e do evangelho que reforme a igreja, que a torne cristã. Podemos ter esperança de que, cristãos amparados por estas igrejas cristãs, lancem-se a frear a espiral de violência que assola este país, e que, se Deus renovar a igreja brasileira por meio de sua Palavra, haverá real unidade e concórdia cristã também quanto a erguer a voz contra a violência (Confissão de Augsburgo, artigo VII):
 

Porque para a verdadeira unidade da igreja cristã é suficiente que o evangelho seja pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e os sacramentos sejam administrados em conformidade com a palavra de Deus. E para a verdadeira unidade da igreja cristã não é necessário que em toda a parte se observem cerimônias uniformes instituídas pelos homens. É como diz Paulo em Efésios 4: ‘Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo’.

O retorno à pregação e ensino da pura Palavra de Deus é urgentemente necessário para uma igreja cristã que almeja relevância no país hoje. Que muitos ouçam o chamado de Dietrich Bonhoeffer: “[A igreja] não nos será tomada – seu nome é decisão, seu nome é o discernimento dos espíritos… Venha… você que foi abandonado, você que perdeu a Igreja; retornemos às Sagradas Escrituras, busquemos juntos a Igreja… Pois aqueles momentos, quando a compreensão humana se desintegra, podem muito bem ser uma grande oportunidade de edificação… Igreja, permaneça igreja! … confesse, confesse, confesse”. 33
 

“Ó Deus, da violência tu me salvas” (2Sm 22.3)
“Ele tem piedade do fraco e do necessitado, e salva a alma aos indigentes. Redime as suas almas da opressão e da violência, e precioso lhe é o sangue deles” (Sl 72.13-14).
“Levanta-te, ó Deus, julga a terra” (Sl 82.8).

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1 Durante o incêndio o faxineiro Rogério Mendes de Oliveira, que teve 40% do corpo queimado, perdeu a mulher, Wania Lúcia Barbosa, e a filhinha, Vitória Cristina Barbosa. As duas morreram abraçadas em meio às chamas.
2 Entre as vítimas feridas estava a modelo Bia Furtado, que teve 40% do corpo queimado. Ainda hoje ela luta na justiça por indenização.
3 Cf. o recente e escandaloso arquivamento por parte do Supremo Tribunal Federal do processo contra os acusados na morte do jovem estudante de medicina Edison Tsung Chi Hsueh, em 1999.
4 Para as similaridades com o regime esquerdista do Leste da Europa às vésperas da queda do comunismo, cf. Stephen Kotkin, Sociedade incivil (Rio de Janeiro: Objetiva, 2013), p. 31-46. Infelizmente, neste país a “sociedade civil” se tornou, na verdade, uma “segunda sociedade”. A parte verdadeiramente organizada do país é o establishment.
5 Para estes dados, cf. Julio Jacobo Waiselfisz, Mapa da Violência 2013: Mortes ‘matadas’ por armas de fogo, em: http://mapadaviolencia.org.br/pdf2013/MapaViolencia2013_armas.pdf.
6 Para o gráfico, cf. “Assassinatos no Brasil entre 2004 e 2007 superam mortes em guerras”, em: http://oglobo.globo.com/pais/assassinatos-no-brasil-entre-2004-2007-superam-mortes-em-guerras-7759063#ixzz2VNVEv7Lb.
7 Cf. os dados em “Debate mostra que regime semiaberto no Brasil é ficção”, em: http://www.conjur.com.br/2013-mai-27/audiencia-stf-mostra-regime-prisao-semiaberto-brasil-ficcao.
8 Vale lembrar que a estrutura jurídica brasileira é fortemente influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa – sendo fortemente influencia pelos ideais rousseaunianos – daí a noção de que o homem nasce bom e foi corrompido pela sociedade, portanto, a sociedade deve se esforçar por reeducar/ressocializar o indivíduo quando este comete um crime. Para nossa legislação, é anátema falar em penitência, vindicação, etc.
9 Cf., por exemplo, Anne Applebaum, Gulag: uma história dos campos de prisioneiros soviéticos (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004), passim. Aleksandr Soljenitsin, em O Arquipélago Gulag, cita que os bandidos eram vistos pelo poder soviético como “socialmente próximos” e sempre tinham regalias, nos trens de presos ou nas prisões. Os presos políticos é que incomodavam, chamados de “socialmente perigosos” (sotsialnoopasnyi).
10 Cf., por exemplo, “Marilena Chauí diz em evento do PT que odeia a classe média (Jornal da Cultura)”, em: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=k6hI2iIVy9Q.
11 Cf. “[Ministro da Justiça] Cardozo diz que não é possível reduzir a maioridade penal”, em http://oglobo.globo.com/pais/cardozo-diz-que-nao-possivel-reduzir-maioridade-penal-8399386. Cf. uma resposta lúcida e fundamentada em “Inércia e perplexidade”, por João de Deus M. Barreto, em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2013/06/03/inercia-perplexidade-por-joao-de-deus-barreto-498780.asp
12 O índice de criminalidade entre menores de 18 anos tem aumentado significativamente. Segundo dados da Polícia Civil do Rio de Janeiro, em abril deste ano foram apreendidos 246 adolescentes – 107 deles reincidentes. Em maio foram 278 apreendidos, sendo 128 reincidentes. Já passou da hora de se discutir como o Estatuto da Criança e do Adolescente conduziu os menores para o crime, em vez de protegê-los. Aqueles que são contra a redução da maioridade penal ainda imaginam que ela colocaria os menores em contato com criminosos presos. Alguém precisa dizer para esses ingênuos, que estabeleceram uma impunidade oficial, que os menores já estão em sob a influência de chefes de quadrilhas, traficantes de drogas, assaltantes e assassinos. 
13 Para a relação entre pecado original, pecado pessoal e pecado estrutural, cf. Franklin Ferreira & Alan D. Myatt, Teologia sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2008), p. 409-470, Franklin Ferreira, Teologia cristã (São Paulo: Vida Nova, 2011), p. 108-111.
14 Para as ideias deste parágrafo, cf. “Até a próxima oportunidade”, por Sandro Vaia, em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2013/04/19/ate-proxima-oportunidade-por-sandro-vaia-492855.asp.
15 Que insistem em afirmar que suas bandeiras políticas são “cristãs”, ainda que, em temas teológicos sensíveis assumam posições de ruptura com a fé cristã histórica, muitas vezes seguindo o marxismo como pressuposto epistemológico.
16 Este é um ótimo exemplo do uso da lógica falaciosa do reductio ad Hitlerum e de seu corolário, a lei de Godwin.
17 Cf., por exemplo, o provocador ensaio “O Estado do medo”, por Marco Antonio Villa, em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2012/12/26/o-estado-do-medo-por-marco-antonio-villa-480081.asp.
18 A idade da responsabilidade criminal nos Estados Unidos varia de 6 a 12 anos; Inglaterra e País de Gales, 10 anos; Suíça, 10 anos; Escócia, 12 anos; França, 13 anos; Rússia, 14 anos; Alemanha, 14 anos; Japão, 14 anos; Suécia e Dinamarca, 15 anos; Portugal, 16 anos. Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Defense_of_infancy#Ages_of_criminal_responsibility_by_country, que deve ser cotejada com: http://www.unicef.org/pon97/p56a.htm. Alguns países possuem mais de uma idade como “maioridade penal”, dependendo do tipo de crime praticado.
19 Deve-se lembrar de que partidos de tendência esquerdista não são de orientação democrática. Suas propostas sempre são inspiradas na ideia do Estado regulador, coercitivo, julgador e punidor. Não reconhecem a dinâmica de equilíbrio de segmentos da sociedade civil. Por pensarem desse modo, facilmente são corrompidos pela ideia de que são os donos da verdade e porta-vozes da justiça.
20 Para uma crítica irônica desta mentalidade, cf. o ensaio “O bandido e o frentista”, de Luiz Felipe Pondé, em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2013/05/1277563-o-bandido-e-o-frentista.shtml.
21 Cf. o artigo 21º da Constituição Federal e o artigo 44º do Código Penal.
22 A edição de 11/05/2013 do Jornal O Globo trouxe matéria especial em que foi apontado amplo crescimento da compra de armas pela população brasileira, mas a reportagem errou ao não deixar claro que o aumento de registros não implica aumento na compra de armas. O IPEA divulgou em 01/04/2013 um estudo apontando uma queda de 40% na compra de armas, atribuída ao estatuto do desarmamento.
23 Ainda que haja excessos nestas manifestações, não se deve tratar o todo pelas partes. Os vândalos devem ser identificados e presos, e punidos de acordo com a lei. E a tarefa dos cristãos que participam de tais ajuntamentos é agirem como pacificadores, em consonância com as palavras de Jesus Cristo (cf. Mt 5.3-16).
24 Cf. Homilia do Papa Francisco: Santa Missa com os Cardeais, em 14 de Março de 2013, em: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/homilies/2013/documents/papa-francesco_20130314_omelia-cardinali_po.html.
25 Para a mudança na missão da igreja, isto é, da ênfase na reforma interna, para a priorização da relevância pública e reforma social, cf. Mark Dever, Nove marcas de uma igreja saudável (São José dos Campos: Fiel, 2009), especialmente p. 197-198. Citando Gary Wills, “quanto mais os evangélicos purificavam a sociedade, tanto menos sentiam a necessidade de uma disciplina que separava a igreja do mundo”.
26 Cf. Timothy Keller, Justiça generosa: a graça de Deus e a justiça social (São Paulo: Vida Nova, 2013), p. 145-148.
27 Timothy Keller, Justiça generosa: a graça de Deus e a justiça social, p. 132.
28 Deve-se ressaltar que os neopentecostais, ao culpar os demônios por tudo, ajudam a propagar a ideologia da “vitimização” e da fuga da responsabilidade pessoal. A noção de guerra espiritual, associada a este segmento, também contribuiu para obliterar a responsabilidade pessoal, e consequentemente, a moral social.
29 Cf. a provocadora obra de Miroslav Volf, O fim da memória (São Paulo: Mundo Cristão, 2009).
30 Stephen Kotkin, Sociedade incivil, p. 173.
31 Cf. Stephen Kotkin, Sociedade incivil, p. 75-156.
32 Karl Barth, “A existência teológica hoje”, em Walter Altmann (org.), Karl Barth: Dádiva & louvor; artigos selecionados (São Leopoldo: IEPG & Sinodal, 1996), p. 166.
33 Eberhard Bethge & Victoria J. Barnett, Dietrich Bonhoeffer: a biography (Minneapolis: Augsburg Fortress, 2000), p. 296.

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PUBLICADO ORIGINALMENTE EM – TEOLOGIA BRASILEIRA

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