Guerra civil na Síria é palco de sangrento conflito e evasão de cristãos em massa

Organizações humanitárias, como a Médicos Sem Fronteiras, lutam para trabalhar com recursos mínimos e pouco financiamento.

 

Uma sangrenta guerra civil assola a Síria há mais de dois anos causando morte, destruição e a fuga em massa da população, cujas minorias étnicas e religiosas são duramente perseguidas em meio ao conflito. Em luta, estão forças pró-governo de Bashar al-Assad, pertencentes à minoria alauita e opositores do regime, principalmente sunitas. Os dois lados disputam o controle de territórios como Damasco, e outras cidades do país, como a região de Aleppo, ao norte do país, além de localidades como Idleb, Raqa, Hassaké, Deraa, Mouadamiyaal-Cham e Daraya, onde foram registrados bombardeios orquestrados, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

Os ataques por terra e aéreos e a ampla abrangência geográfica dos combates deixaram até o momento cerca de 70 mil mortos, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU). A agência de refugiados da ONU registrou, simultaneamente, mais de 1,4 milhão de sírios refugiados nos países vizinhos, como a Turquia, Iraque, Jordânia, Líbano e Egito. Isso representa 30% a mais do que a projeção realizada pela entidade até o final de junho, segundo o TheNew York Times.

Os constantes bombardeios e ataques tem provocado um número de baixas e feridos maior do que a assistência médica é capaz de atender, já que o financiamento para esse setor também tem sido reduzido.

Na semana passada, os EUA denunciaram que o regime sírio provavelmente tenha utilizado armas químicas contra os rebeldes, mas não confirmou a absoluta certeza das informações. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, por sua vez, falou de "provas limitadas", mas "crescentes" dessa utilização, segundo o G1.

 

Hospitais de campanha

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) está, desde junho de 2012, em território sírio atendendo clandestinamente as vítimas da guerra civil no país em hospitais de campanha. O hospital improvisado funciona muitas vezes em subterrâneos, para proteção das instalações e dos pacientes. 

Veja as imagens:

 

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Enfermeira do Médicos Sem Fronteiras ajuda mulher em trabalho de parto em hospital de campanha montado pela organização no norte da Síria

Fonte: Divulgação MSF/Nicole Tung/G1

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Caverna que antigamente era usada como depósito de maçãs em propriedade rural no noroeste da Síria e serviu de abrigo para hospital de campanha do grupo Médicos Sem Fronteiras

Fonte: Divulgação/MSF/G1

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Paciente com queimaduras no rosto recebe atendimento em hospital da equipe dos Médicos Sem Fronteiras no norte da Síria

Fonte: Divulgação/Ricardo Fernandez Sanchez/MSF/G1

 

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 Paciente atingido por estilhaços de bomba é atendido em hospital da organização Médicos Sem Fronteiras no Norte da Síria

Divulgação/Nicole Tung/ G1

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Casa vazia na Síria é transformada em um hospital de emergência por equipes da organização Médicos Sem Fronteiras

Fonte: Divulgação/MSF/G1

 

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 O cirurgião britânico Paul McMaster, professor aposentado da Universidade de Birmingham, atende paciente sírio em hospital de campanha montado em caverna

Fonte das imagens: Divulgação/MSF/ G1

 

O presidente da MSF, Felipe Ribeiro, adiantou que os médicos não possuem autorização para atuar  no país, já que o regime de Bashar al-Assad já deu mostras que não eram "bem-vindos", mas nunca fez nada para os expulsar do território.

Segundo relatos de profissionais da MSF, eles entram clandestinamente pelas fronteiras e tem de recrutar enfermeiras das redondezas que se oferecem voluntariamente. As doações de sangue, matérias e recursos são insuficientes, e os médicos operam em regime emergencial. “O que estamos fazendo na Síria é o atendimento clássico de guerra: gerenciar o desastre com recursos limitados (…) Em São Paulo ou em Londres você trabalha com o principio igualitário: o que quer que um paciente precise, deve-se atender. No cenário de uma guerra, quando uma bomba explode e os feridos estão chegando, isso não é possível, e alguém tem de fazer essa escolha”, relata o médico Paul McMaster, que deu a declaração para O Estado de S. Paulo.

 

Declaração

Há alguns dias, a Religious Liberty Partnership (RLP) divulgou uma declaração e a ANAJURE, que compõe os quadros da entidade, se encarregou de levar o assunto à Comissão de Relações Exteriores, por meio do deputado Roberto de Lucena.

Uma moção de apoio foi aprovada mediante apresentação de um requerimento pelo deputado Lucena. O parlamentar evangélico levou ainda o tema sobre a crise na Síria ao plenário na Câmara dos Deputados na quarta-feira (24) depois de se reunir e discutir o assunto com a Associação Nacional de Juristas Evangélicos – ANAJURE. Em seu pronunciamento, Lucena chamou atenção especial para o drama vivido pela população e minorias étnicas e religiosas locais, especialmente a comunidade cristã daquele país.

O deputado federal enfatizou os principais pontos da Declaração de Istambul sobre a Igreja na Síria, que enfoca a gravidade da crise e convoca a comunidade internacional a “prover suficiente proteção para todas as comunidades étnicas e religiosas, bem como seus locais históricos, religiosos e culturais”.

O documento ainda insta os cristãos de todo o mundo a orar pela paz e estabilidade da nação em guerra civil. A intenção é sensibilizar agentes políticos e a sociedade para a criação de uma solução pacífica para a atual crise, incluindo a reconciliação entre as várias comunidades étnicas e religiosas daquele país. Outro objetivo é utilizar práticas que priorizem o bem-estar de todos os sírios ao prover assistência necessária. A Declaração Istambul na íntegra pode ser vista em nosso site aqui.

O Deputado Lucena em seu discurso no plenário também chamou a atenção para as permanentes violações de direitos humanos fundamentais, que, por certo, agravam a segurança e bem estar da população síria. “É necessário utilizar práticas que priorizem o bem-estar de todos os sírios e prover assistência advogando em nome dos vulneráveis”, afirmou o deputado.

Por fim, Lucena destacou ainda o papel da RLP e da ANAJURE como entidades que têm lutado arduamente em favor das minorias éticas e religiosas da Síria e de outros lugares do mundo onde são cometidas violações aos Direitos Humanos fundamentais. 

O presidente da ANAJURE, Dr. Uziel Santana, destacou que em breve haverá uma ação conjunta da entidade com a Frente Parlamentar Evangélica para fazer uma visita oficial ao Embaixador da Síria e entregar a Declaração de Istambul a ele, com o objetivo de “interceder pelos que sofrem a agonia da dor e da morte tão presente”.

 

Sequestro dos bispos

A preocupação internacional se intensificou com o sequestro de dois bispos do alto escalão da igreja ortodoxa, BoulosYázigi, da Igreja Ortodoxa Grega, e o bispo John Ibrahim, da Igreja Ortodoxa Síria, que até agora se encontram em cativeiro em local desconhecido, após contradições em relatos internacionais. Especulações apontam que o ato pode ter partido de grupos terroristas chechenos, mas por enquanto nenhuma organização reivindicou o sequestro dos bispos.

Os cristãos compõem menos de 10%  da população síria e, a exemplo de outras minorias religiosas, vêem com preocupação a luta de grupos extremistas locais contra o governo de Bashar al-Assad.

 

Entenda o conflito na Síria

Os conflitos iniciaram com manifestações contra o governo na cidade de Deraa, no sul da Síria, em março de 2011, quando um grupo de pessoas se uniu para pedir a libertação de 14 estudantes de uma escola local.

A reivindicação dos manifestantes era por um sistema político mais democrático e maior liberdade de expressão em um dos países mais repressivos do mundo árabe.

Contudo, ao passo em que as forças pró-governo abriram fogo contra protestos originalmente pacíficos, os opositores ao regime começaram a pedir a renúncia do presidente Bashar al-Assad.

O Exército Livre Sírio (ELS), que está entre as forças de oposição, encontram-se equipados dom forte armamento, apesar de inferior ao do governo, e tem lançado uma série de ataques contra as forças de segurança do regime.

O regime sírio continua com bombardeios sobre o centro e a periferia de Damasco – onde ocorreu a maioria das mortes registradas. Além da capital, as províncias que mais sofrem com a repressão são Idleb e Homs.

Especialistas em política internacional apontam a Síria como um dos países mais importantes do quadro geopolítico do  Oriente Médio. Eles temem que os conflitos se alastrem a nações vizinhas devido à proximidade do governo de Assad com grupos como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, nos territórios autônomos da Palestina.

O país também é um dos principais aliados do Irã, arqui-inimigo dos Estados Unidos, de Israel e inclusive da Arábia Saudita. O temor é que esta configuração possa levar qualquer conflito armado na região a uma crise de grandes proporções internacionais.

 

Por: ANAJURE – Assessoria de Imprensa l Jussara Teixeira

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