Resultado alcançado: os dois lados concordam em liberar as crianças-soldados
Delegados para um fórum de reconciliação nacional em Bangui, República Centro-Africana.
A tentativa ao longo da semana de reconciliar elementos em conflito na República Centro-Africana (RCA) está em andamento em Bangui, na capital. Cerca de 600 delegados – representando grupos armados, partidos políticos, governo e a sociedade civil – estão lidando com as causas de um ciclo mortal de 2 anos e meio, muitas vezes sectário, coberto de violência, bem como com as possíveis soluções e planos para o futuro do país.
Um dos resultados já alcançados: Acordo dos grupos armados para liberar entre 6.000 e 10.000 crianças-soldados e fim do recrutamento de menores, conforme a UNICEF declarou no dia 05 de maio em Genebra.
Para os delegados do fórum, incluindo representantes cristãos e grupos muçulmanos, e para Anatole Banga, pastor e vice-presidente da Aliança Evangélica para a África Central, o fórum parece o encontro da última chance. “Hoje, todo mundo quer paz. Existe uma vontade real de virar a página do passado e permitir que o país comece novamente de uma base nova”.
Cercada por terras e grande pobreza, a francófona República Centro-Africano tem uma longa história de instabilidade, governada por militares desde que ganhou sua independência em 1960.
A crise mais recente começou no início de 2013 com um rebelde muçulmano, que desencadeou uma reação que tem sido fatal para os muçulmanos. O pacto de cessar fogo, de julho de 2014, tem sido frequentemente violado.
“Desde o início da crise, a Igreja não poupou esforços para assegurar que a crise não se transformasse em um conflito sectário. Este fórum oferece-nos a oportunidade para reiterar nosso compromisso com a paz e a reconciliação na RCA,'' disse Banga.
A Aliança Evangélica realizou um workshop preparatório para desenvolver propostas, que serão apresentadas por seus delegados.
Consultas preliminares para o Fórum tinham permitido que as pessoas de todos os grupos sociais e profissionais pudessem expressar suas preocupações e sugerir soluções para acabar com a violência.
Isso é o que o distingue de fóruns anteriores, no qual os participantes nem sempre estavam representando o povo, disse Banga. "A igreja, em conjunto com a sociedade civil, tem trabalhado para assegurar que o fórum não será monopolizada pelos políticos. Nós queremos que os centro-africanos levantem suas vozes para expressar suas preocupações, de modo que este fórum venha a ser principalmente um encontro social, não político."
''Nós todos esperamos que, graças a esses esforços preparatórios, o fórum obterá resultados construtivos e duradouros."
Os discursos da agenda de 04 de maio e 05 de maio foram dedicados principalmente a questões processuais. Uma delegação de Ruanda, incluindo sobreviventes do genocídio de 1994, compartilhou a experiência da reconciliação de seu país.
Uma crise esquecida?
A violência em curso deixou um número estimado de 2,7 milhões de pessoas que estão precisando de ajuda – cerca de 900 mil foram deslocados à força desde a eclosão da violência, disse o Alto Comissariado da ONU para Refugiados em uma nota à imprensa no dia 27 de abril.
“Nós devemos alertar a RCA para que não se torne uma crise esquecida", disse Claire Bourgeois, coordenadora humanitária da ONU na RCA em nota. "O financiamento atual para a resposta estratégica humanitária não nos permite garantir a proteção de todas essas pessoas deslocadas ou fornecer o mínimo do que é necessário para satisfazer as enormes necessidades dessas pessoas.”
Enquanto isso, a polícia militar francesa tem conduzido uma investigação a fim de apurar as alegações de abuso sexual de crianças, envolvendo tropas francesas, entre dezembro de 2013 e junho de 2014. As alegações surgiram depois de um relatório das Nações Unidas que vazou para um jornal britânico.
Intitulado "Abuso Sexual em Crianças pelas Forças Armadas internacionais" e carimbado como "confidencial" em cada página, o relatório detalha o estupro e sodomia de jovens meninos famintos e desabrigados por parte das tropas de paz francesas em um centro para pessoas refugiadas no aeroporto de M'Poko em Bangui.
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Fonte: Word Watch Monitor
Tradução: Aléxia Duarte l ANAJURE