Líderes religiosos clamam por intervenção das Nações Unidas na República Centro-Africana

    Arcebispo Católico e Imã visitam o Reino Unido em busca de apoio.

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    Duas das mais antigas figuras religiosas na República Centro-Africana visitaram Londres essa semana para incentivar o Reino Unido a disponibilizar uma força de manutenção da paz liderada pela ONU no país desolado pela guerra.

    Dieudonné Nzapalainga, Arcebispo Católico de Bangui, e o Imã Omar Kobine Layama disseram que a atual força de paz, formada por tropas Francesas e a União Africana são insuficientes, e que a República Centro- Africana vive amedrontada.

    “A situação tem se deteriorado de uma forma incompreensível”, escreveram os líderes em uma carta ao Primeiro-Ministro do Reino Unido, David Cameron. “Crimes hediondos estão sendo cometidos por vários grupos armados, incluindo assassinato, estupro, sequestro, pilhagens e a destruição de casas. Mais de um milhão de pessoas entre nossos cidadãos foram deslocadas pela violência e dois milhões precisam com urgência de assistência humanitária. Apesar da presença de mil e seiscentas tropas Francesas e quatro mil forças lideradas pela União Africana, a violência e o medo dominam a vida cotidiana”.

    A carta acrescentava que o país tem passado por “ciclos de crise por décadas, mas nunca vimos uma situação tão dramática e alarmante como a atual. Através dos anos, nosso povo tem vivido lado a lado, em harmonia. Hoje, nós testemunhamos Cristãos e Muçulmanos atritando-se uns contra os outros, cometendo crimes de imensurável violência contra seus próprios irmãos e irmãs”.

    Monsenhor Nzapalainga rejeitou a ideia de que a República Centro-Africana deva ser dividida em dois países – um Muçulmano e outro Cristão.
    “A República Centro-Africana é um país unido e indivisível, devemos mantê-lo assim”, disse ele a BBC. “Nós não encontraremos a solução na divisão. Há riqueza na diversidade e devemos proteger isso. Quando eu era jovem, no período do Natal, nós compartilhávamos nossos brinquedos com nossos amigos Muçulmanos e durante o Ramadã comíamos carneiro com nossos amigos Muçulmanos. Ficávamos felizes em fazer isso, íamos à escola juntos, brincávamos juntos, éramos um sem nos importar se alguém era Muçulmano ou Cristão. Nós éramos irmãos da República Centro-Africana e nos orgulhávamos disso”.

    O Imã acrescentou que figuras religiosas assumiram um papel crucial na crise, como pacificadores, com tantos políticos com medo de se manifestar temendo represálias contra eles e suas famílias. “Nós (líderes religiosos) estamos fazendo o nosso trabalho como humanitaristas, porque, a religião é humana. Se figuras políticas não estão se manifestando, pode ser porque temem que isso coloque suas vidas e de suas famílias em perigo, mas nós somos pastores e devemos proteger o nosso rebanho”.

    Anteriormente, Nicolas Guérékoyamé-Gbangou, líder da Igreja Protestante da República Centro-Africana, que também estava no Reino Unido, alegou que as raízes do conflito jazem em questões políticas, mas que agora diferenças religiosas estão sendo usadas como desculpa para a violência. “Não existe milícia Cristã e também não existe milícia Muçulmana… Esse conflito não é, de maneira alguma, religioso.”

    Originalmente, os três líderes viajariam para a Europa juntos, mas uma perda pessoal fez com que o Reverendo Guérékoyamé-Gbangou retornasse para casa mais cedo.

    No dia 29 de janeiro, membros do dissoluto grupo Séléka atiraram 4 granadas na igreja Elim-Mpoko em Bangui, que é liderada por Guérékoyamé-Gbangou.

    De acordo com fontes locais, a explosão matou várias pessoas e causou diversas lesões. 

    A igreja Elim Mpoko é um dos 57 locais onde desabrigados têm se escondido desde o aumento da violência em dezembro na capital. No momento do ataque ela abrigava o número estimado de mil e quinhentos refugiados. Os pacificadores do MISCA costumavam proteger esse local, mas aparentemente eles não estavam presentes quando os agressores atacaram.

    A República Centro-Africana tem sido assolada pela violência desde dezembro de 2012, quando uma coalizão de grupos rebeldes, liderados por Michel Djotodia e sob o controle do bando Séléka, invadiram o país para finalmente expulsar o Presidente Francois Bozizé em março de 2013.

    Djotodia tomou o controle do governo de transição, mas perdeu o controle dos soldados Séléka. Ele dissolveu o Séléka em setembro e pediu resignação do cargo mais cedo nesse mês.

    Ex-membros do Séléka continuam a pilhar, estuprar e matar Cristãos em particular. Desde setembro, muitos membros da população local tem cooptado já existentes grupos de autodefesa chamados anti-Balaka, que têm atacado ex-membros do Séléka e outros habitantes locais, o que por sua vez, tem trazido represálias brutais de ex-membros do Séléka e aumentado temores de um genocídio entre religiões.

    Em dezembro o Conselho Nacional de Segurança da ONU autorizou a expansão das forças militares de paz Africana e Francesa, que no momento tentam manter a segurança na República Centro-Africana, e começaram o planejamento para uma possível junção dessas forças para uma operação de manutenção da paz liderada pela ONU.

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    FONTE: World Watch Monitor
    TRADUÇÃO: Walkíria de Moraes l ANAJURE

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