Escritora e apresentadora no MSNBC, S. E. Cuppfoi notícia às vésperas da CPAC 2013, ao se retirar como palestrante do congresso conservador anual. Sua reclamação contra a CPAC é que não seria permitido o patrocínio de organizações pró casamento homossexual no evento.
Cupp se identifica como “uma proponente dos direitos gays” e disse no MSNBC que “a igualdade no casamento” é uma “questão majoritária que os Republicanos parecem não mais evitar”.
“A decisão da CPAC de deixar de lado GOProud e Log Cabin Republicans me deixam cada vez mais desconfortável”, ela disse. “Até que a conferência pare de envergonhar alguns de seus mais valiosos defensores, este é um evento do qual, infelizmente, eu não posso participar”.
Deixe-me começar dizendo que respeito S. E. Cupp e sua boa vontade em falar daquilo que ela acha ser verdade. Tendo dito isto, é em nome da inteligência – “não permitindo que nossas paixões nos deixem cegos”, como coloca o filósofo Albert Camus – que eu rejeito a noção de “casamento entre pessoas do mesmo sexo”.
Reconhecidamente, a frase “igualdade no casamento” funciona como um Relações Públicas altamente efetivo. Além do mais, quem quer se posicionar contra o casamento? E quem pode, possivelmente, protestar contra a igualdade? Portanto, “igualdade no casamento” parece ser algo benéfico.
Contudo, a distância crítica permite que se veja além da Relação Pública e se perceba que o tipo de “igualdade” promovido na “igualdade no casamento” é de natureza diferente em teoria, inferior em resultados, ao conceito genuinamente libertador de “criado igual” que nós encontramos plantado na Declaração de Independência.
Construção social? Valor Tradicional?
Considere a palavra “casamento”. Ela tem um significado normativo. Ela se refere a diversidade de macho e fêmea, um homem mais uma mulher, unidos em amor, serviço e compromisso para a vida. Seu mérito deriva não da tradição de ser um “valor preferencial”, uma construção social, um sistema de crença, ou um suporte da burguesia.
Ao invés disso, o casamento deve ser respeitado em termos paralelos ao conceito de liberdade e direitos humanos inalienáveis endossados pelo Criador. O casamento é, desse modo, reconhecido como uma estrutura social inalienável estabelecida pelo Criador dentro da arquitetura da criação e da essência da natureza humana. Pessoas que rompem o casamento acabam rompendo a si mesmas, assim como quem desafia a gravidade pulando de penhasco sem um pára-quedas.
Agora, porque a palavra “casamento” tem um significado definido, ela pode ser distinguida de arranjos não maritais. A lógica de “A não poder ser igual a não-A” não se aplica apenas à propostas legais e suas falsificações, mas também ao casamento e suas falsificações.
Por exemplo, o cônjuge pode ser o melhor amigo de alguém. Mas isto não significa que o casamento possa ser reduzido à amizade. Um milhão de pessoas poderiam marchar com o banner de direitos civis “Amizade sem limites” ou “Igualdade na amizade”, mas a razão e a clareza de pensamento protestariam contra a desvalorização do casamento causado pelas elevadas falsificações do mesmo status.
Uma vez mais, há amor no casamento, profundo amor sacrificial. Mas casamento é mais que amor. Pois há diferentes tipos de amor apropriados à diferentes contextos – seu amigo, seu filho, seu cachorro. Estas distinções protegem as crianças de abuso e incesto. Nós devemos ser cautelosos em declarar slogans apaixonados de “amor sem limites”.
Todo ser humano tem o direito inalienável dado por Deus de ter o casamento como uma espécie de felicidade. Mas ninguém tem o poder criativo (muito menos a autoridade) de remodelar este dom do Criador. Mudar a natureza do casamento não está apenas acima da alçada de um presidente, está além da capacidade ôntica de qualquer ser humano.
O casamento é um refúgio para a humanidade, e um porto seguro para crianças, precisamente porque depende do Criador, não de paixões ideológicas, nem de decisões do estado.
Justiça igual sob o Relativismo
A palavra “igualdade” igualmente desfruta de muitas conotações positivas. Gravadas na fachada do prédio da Suprema Corte em Washington, D.C., estão as palavras majestosas “Justiça igual sob a Lei”. O conceito de igualdade é indelevelmente vinculado aos direitos civis dos negros americanos.
Historicamente, a recepção positiva da igualdade se deve grandemente ao conceito bíblico de que todos são iguais perante o Criador, que Deus não favorece ninguém baseado em fatores externos como raça, classe, poder econômico, ou conexões políticas. Neste sentido, Deus é descrito no Novo Testamento, no livro de Atos, como “o que não faz acepção de pessoas”.
Em tal contexto, não é surpresa que colocar juntas “casamento” e “igualdade” estimule poderosos sentimentos positivos.
Da mesma forma que casamento tem um significado normativo, igualdade tem. O conceito, como usado por ativistas homossexuais, é uma forma de injetar relativismo no discurso moral e mudança social. Este é um clamor do conceito libertador de “criado igual” como enunciado na Declaração de Independência.
A Declaração avisa a todos os interessados – presidentes e reis, minorias e maiorias, grupos interessados e ativistas – “não apenas que pessoas são iguais, mas que elas são iguais porque foram criadas iguais”, escreveu Paul Marshall, do Hudson Institute, sobre Deus e a Constituição. Pois “se os direitos vêm de Deus, não do estado, então o estado não tem autoridade de retirá-los ou passar por cima deles”, explica Marshall. Apenas neste contexto, estão seguros os direitos humanos e os direitos civis não arbitrários.
Harry Jaffa, do ClaremountInstitute faz uma colocação similar sobre Igualdade e Liberdade, dizendo que “os homens que fundaram nosso sistema de governo não eram relativistas morais ou políticos… Em afirmar que todos os homens são criados iguais eles expressaram a convicção de que a liberdade humana depende do reconhecimento de uma ordem que o próprio homem não cria”.
Como alicerce da liberdade para seres humanos que foram “criados iguais”, o casamento é uma ordem comum de diversidade para homem e mulher dentro de uma unidade libertadora. É uma bênção de liberdade, e protegida como tal, porque não é sujeita ao pensamento relativista, às pressões da mídia ou “novas normas”.
O fim do jogo: uma confissão lésbica
Porque a “igualdade” da “igualdade no casamento” funciona como uma palavra código para relativismo, o impacto do movimento para o “casamento” homossexual como um direito civil é o oposto do que foi projetado para ser. O fim do jogo não é fazer o casamento igualmente disponível para todos, mas fazê-lo igualmente indisponível para todos.
Masha Gessen, uma lésbica e jornalista, falou francamente sobre isto em uma conferência em Sydney, Austrália, no verão passado. “É óbvio que nós devamos ter o direito de casar”, ela disse. “Mas eu também penso que é igualmente óbvio que a instituição do casamento não deva existir”.
Esta confissão, “causa certo problema ao meu cérebro”, disse Gessen, “e em parte o porquê de me causar problema é que lutar pelo casamento gay geralmente envolve mentir sobre o que nós iremos fazer com o casamento quando chegarmos lá – porque nós mentimos que a instituição do casamento não irá mudar, o que é uma mentira”.
Como mudará? Gessen explica: “Eu tenho três crianças que têm cinco pais, mais ou menos… Eu teria que viver em um sistema legal que fosse capaz de refletir esta realidade. E eu não acho que isso seja compatível com a instituição do casamento”.
“Igualdade no casamento” se torna “elasticidade do casamento”, com o fim último da “extinção do casamento”.
S. E. Cupp diz que não acha que seja capaz de falar na CPAC “até que esta questão esteja reconciliada e solucionada”. Mas a solução para as falsificações não é a reconciliação, mas o reconhecimento e a recusa em aquiescer às paixões ideológicas.
O banner da “igualdade no casamento” está desgastado e dilacerado, com pedaços ao vento, tiras recortadas e sujando as ruas. O casamento, todavia, vive e respira. Assim como aqueles que o saúdam.
FONTE: THE PEARCEY REPORT
TRADUÇÃO: JORGE ALBERTO
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