Foto: Marcha anti-FARC em 2008. (AlCortes / WWM)
O negócio está feito. A guerra, pelo menos no papel, acabou. Depois de mais de meio século de conflito, o governo colombiano assinou um acordo de paz com o maior grupo rebelde do país, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – ou “as Farc”. “Não há espaço para vencedores ou perdedores quando você alcançar a paz através de negociações. Colômbia ganha e morte perde,” postou em seu twitter o negociador-chefe das FARC, Rodrigo Granda, após a assinatura final do acordo de paz em 24 de agosto.
Embora a maioria dos colombianos esteja comemorando, a Igreja continua dividida sobre a questão, na opinião do World Watch Monitor. A Igreja urbana é otimista, mas cristãos nas zonas rurais permanecem céticos sobre a promessa de paz e de reconciliação, depois de tanto sofrimento. Deve ser lembrado que a Colômbia está em guerra interna por décadas. Não será fácil de alcançar uma paz duradoura.
Mas, depois de um conflito que ceifou a vida de mais de um quarto de 1 milhão de pessoas e criou a maior população mundial de pessoas deslocadas internamente – quase 7 milhões, de acordo com um relatório do final de 2015 do ACNUR – nem todos estão convencidos.
O acordo ainda precisa da aprovação oficial do povo colombiano, com um voto definido para 2 de outubro. O ex-presidente Alvaro Uribe Velez, que liderou a repressão militar contra as FARC, é líder da oposição. Ele chama o atual presidente Juan Manuel Santos de um “traidor”.
O que significa o acordo para os cristãos?
A Colômbia é o n.º 46 na lista mundial da Open Doors International, que classifica os 50 países onde é mais difícil de viver como um cristão ativo. Dennis Petri, analista da entidade, diz que a violência ligada ao crime organizado é o principal fator por trás da perseguição de cristãos na região. E na Colômbia não houve nenhum expoente maior dessa perseguição do que as FARC.
Desde a sua criação em 1964, as FARC tem assassinado pastores, destruído igrejas, extorquido congregações, sequestrando missionários e líderes de igreja; além dos recrutamentos à força jovens da Igreja para servir como soldados.
“A violência na Colômbia vai continuar, apesar do acordo de paz”, diz Petri. “Em áreas onde o governo perdeu o controle da segurança pública, os cartéis de drogas e grupos armados ilegais ainda continuam a operar impunemente”. Isto significa que estes grupos criminosos continuarão a ter como alvo os cristãos. “Deve ser lembrado que a Colômbia está em guerra interna por décadas. Não será fácil de alcançar uma paz duradoura”.
“Minha principal preocupação é com o escopo do acordo: ele apenas vincula as FARC e o ELN. Outros grupos de guerrilha e paramilitares além de gangues criminosas presentes no país continuarão agindo ativamente. Além disso, existem preocupações de que os membros da guerrilha não vão seguir o acordo de paz negociado pelos seus líderes e vão continuar com seus negócios muito lucrativos de tráfico de drogas. Isto implica dizer que a pressão de ambos os grupos de guerrilha sob todos aqueles que praticam sua fé cristã em comunidades rurais certamente não cessará a curto prazo.”
O Arcebispo de Tunja e presidente da Conferência Episcopal da Colômbia, Dom Luis Augusto Castro Quiroga, também falou de suas preocupações.
“Precisamos de um sinal claro de que a assinatura do acordo não é apenas um ato simbólico. A guerrilha deve entregar e destruir as armas publicamente,” ele disse, conforme relatado pela Agência Fides. “O povo quer ver imediatamente os efeitos do acordo.”
Liz Poveda, da Open Doors na Colômbia, diz que parte do desafio é levantar a consciência de que a Igreja na Colômbia continua sob ameaça de grupos criminosos, incluindo as FARC.
“Na Colômbia não há nenhum reconhecimento oficial da Igreja perseguida,” ela disse. “Não há proteção do estado para as pessoas que estão ameaçadas de exercer a sua fé, como é dado para os sindicalistas, políticos e outros. Nós não somos nem a favor nem contra o acordo; Só queremos responder à necessidade da Igreja perseguida. Os filhos dos pastores assassinados, suas esposas, os desapropriados, e muitos mais, já estão vivendo o pós-conflito e clamando para que a sua verdade seja ouvida de modo que os mártires da Igreja Cristã não sejam apagados da memória do país.”
Após a guerra, trauma:
Mesmo que o acordo de paz supere as melhores expectativas, as décadas de conflito jamais serão apagadas da vida dos colombianos.
“O trauma é uma condição que ocorre durante situações de crise em nossa vida. Nosso cérebro é projetado para gerar crescimento, maturidade e aprendizagem. Trauma é um obstáculo para este processo natural, e como tal, pode resultar em estagnação do cérebro,” disse Tatiana Ramirez, uma psicóloga especialista em traumas da Open Doors.
O governo não oferece atendimento psicológico para as vítimas do conflito e instituições de caridade estão buscando tapar essa lacuna. “As pessoas em perseguição sofrem profundo isolamento social, especialmente em ambientes como o nosso, onde nem o governo nem a sociedade estão dispostos a reconhecer a existência de perseguição,” disse Ramirez.
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FONTE: World Watch Monitor
TRADUÇÃO: Rafael Durand l ANAJURE