Em um incidente que chama a atenção para o aumento da vulnerabilidade das minorias religiosas no país, do Egito veio o relato de que quatro homens muçulmanos xiitas foram mortos por uma multidão liderada por xeiques salafistas.
As mortes ocorreram quando centenas de muçulmanos sunitas atacaram casas xiitas na aldeia de Zawyat Abu Musalam, na província de Gizé, enquanto estavam reunidos na tarde do dia 23 de Junho. Entre os mortos estava o proeminente clérigo xiita Hassan Shehata juntamente com seu irmão.
Imagens chocantes dos fatos ocorridos foram postadas no Youtube, mostrando os corpos das vítimas sendo arrastados e profanados nas ruas aos gritos de “Allahu Akhbar” (Deus é Maior, um adágio islâmico). Os agressores também são acusados de terem incendiado diversas casas xiitas e ferido diversas pessoas.
As mortes seguem em uma escala crescente com o aumento do discurso anti-xiita e de intolerância. A agência de notícias Al Ahram reportou que xeiques salafistas haviam lançado ataques verbais aos xiitas na aldeia nas últimas três semanas, acusando-os de serem infiéis, além de espalhar deboches contra eles.
Desde a visita ao Cairo do ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad em fevereiro, e com o progresso da guerra civil na Síria, os ataques e discursos inflamatórios contra xiitas tem se tornado frequentes. Em abril, Dr. Mohamed Taha, um membro do Escritório de Orientação da Irmandade Muçulmana (Muslim Brotherhood’s Guidance Bureau) e líder do departamento de pedagogia da Irmandade, chegou a afirmar que “em hipótese alguma” o povo egípcio e o governo aceitariam a existência ou propagação do Islamismo Xiita.
Em maio, Tharwat Attallah, um membro do parlamento do partido salafista Nour, descreveu os xiitas como sendo “mais perigosos que mulheres nuas”, e “um perigo para a segurança nacional do Egito”. Seu colega Abd El-Galeil El-Qassem, também do partido Nour, disse que o xiismo minaria a “essência da religião e a doutrina [sunita]." Durante uma Conferência de Solidariedade na Síria, em 15 de Junho, que contou com a participação do presidente Mohamed Morsi, xeiques salafistas foram vistos insultando xiitas e incitando a violência contra eles.
Os assassinatos em Gizé refletem os ataques ao longo de décadas à comunidade Copta do Egito, e também destacam um crescimento da violência sectária desde a revolta de 2011 e o aumento da vulnerabilidade das minorias religiosas sob o atual regime. Membros do movimento salafista têm estado à frente da maioria dos recentes incidentes sectários, muitos dos quais têm sido precedidos por discursos inflamatórios e incitadores.
Um fato que já se tornou comum, durante ataques à comunidade Copta, testemunhas oculares dos assassinatos dos xiitas em Gizé dizem que apesar de estar presente, a polícia não fez nada para conter a violência.
Mervyn Thomas, diretor executivo da Christian Solidarity Worldwide (CSW), expressou condolências aos familiares dos quatro homens mortos. “A situação para as minorias religiosas do Egito tem se tornado cada vez mais insustentável devido à falhas governamentais em tomar atitudes contra a cultura de impunidade que sustenta o sectarismo. ”
E continuou: “nós pedimos ao governo egípcio que estenda os mesmos direitos e proteções às minorias religiosas do país, assim como a qualquer outro cidadão. Pedimos também a tomada de medidas imediatas contra qualquer um que use de intolerância para validar atos de violência contra grupos vulneráveis, além do direcionamento de serviços de segurança para que diligentemente apreendam e processem os incitadores e perpetradores da violência sectária, a partir deste momento em diante”.
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Fonte: Christian Solidarity Worldwide
Tradução: ANAJURE