Relatos de cristãos que saíram da Síria expõe drama de famílias em um país que vive sob leis e costumes islâmicos.
Dr. Mark Durie
O seguinte relato foi escrito por Martin Janssen em Omã, na Jordânia. As notas e a tradução do holandês para o inglês são do Dr. Mark Durie, um vigário anglicano residente em Melbourne, associado do Fórum do Oriente Médio Austrália e autor do livro A Terceira Escolha.
Em seu relatório, Janssen conta a experiência de uma caminhada de oração em Omã, realizada em 21 de maio de 2013, em favor dos dois clérigos sírios sequestrados, o Arcebispo Ortodoxo Grego Paul Yazigi e o Arcebispo Ortodoxo Siríaco Yohanna Ibrahim. Estes arecbispos foram capturados por rebeldes sírios.
Após a caminhada de oração, Janssen teve a oportunidade de encontrar com refugiados Cristãos sírios, que contaram a ele como tiveram que fugir de suas casas e vilas. A vila deles foi ocupada por forças rebeldes que, posteriormente, anunciaram que eles estavam sob um emirado Islâmico e sujeitos à lei da sharia.
Aos habitantes Cristãos foram oferecidas quatro escolhas:
1. renunciar a “idolatria” do Cristianismo e se converter ao Islã;
2. pagar pesado tributo ao Muçulmanos pelo privilégio de manter suas cabeças e sua fé Cristã (este tributo é conhecido como jizya);
3. ser mortos;
4. fugir por suas vidas, deixando seus pertences para trás.
Alguns Cristãos foram mortos, alguns fugiram, outros permaneceram e tentaram pagar a jizya. Mas o tributo se tornou mais pesado à medida que os rebeldes continuaram a aumentar o valor a ser pago. Outros simplesmente não tiveram condição de fugir ou pagar, então se converteram ao Islã e se salvaram.
O cenário relatado pelos refugiados Sírios é uma reencenação do destino histórico de Cristãos no Oriente Médio. O historiador Muçulmano Al-Tabari contou que quando o Califa Umar conquistou a Síria, ele deu o seguinte comando para suas tropas:
“Convoquem as pessoas a aceitarem Alá; aqueles que responderem o chamado, aceitem (converter-se ao Islã), mas aqueles que recusarem obriguem a pagar a jizya, sem humilhar ou rebaixá-los. Se eles recusarem isto, usem a espada sem piedade”.
O comando de Umar estava se referindo ao capítulo 9, verso 29, do Corão:
“Lute contra aqueles a quem têm sido a Escritura, que não acreditam em Alá e no Último Dia, que não proíbem o que Alá tem proibido pelo Seu mensageiro, e não têm seguido a Religião da Verdade, até que paguem a jizya prontamente, tragam-nos sob jugo”.
A política de subjugar Cristãos com a taxação da jizya foi também baseada em um ensino de Maomé que diz:
“Lute no nome de Alá e pelo modo de Alá. Lute contra aqueles que não crêem em Alá. Faça uma guerra santa… Quando encontrar seus inimigos que são politeístas, convide-os a três cursos de ação. Se eles responderem a qualquer um destes, você também aceita e se resguarda de cometer mal contra eles. Convide-os (a aceitar) ao Islã; se responderem, aceite e desista de lutar contra eles… Se eles recusarem aceitar o Islã, ordene que paguem a jizya. Se concordarem em pagar, aceite isto deles e refreie suas mãos. Se eles recusarem pagar a tributação, procure a ajuda de Alá e combata-os. (Sahih Muslim. O livro da Jihad e da Expedição, Kitab AL-Jihad wa´l-Siyar).
A lei Islâmica clássica ordena que às “Pessoas do Livro” sejam dadas três escolhas, mas os rebeldes Sírios estão argumentando com eles, dando uma quarta opção ou deixando-os fugir.
Na lei Islâmica, Cristãos que aceitam pagar a jizya para manter sua fé – e suas cabeças – são conhecidos como dhimmis.
Para uma completa explicação da doutrina Islâmica das três escolhas, incluindo o significado social do tributo jizya, leia A Terceira Escolha, especialmente o Capítulo 6 (O Dhimma: Doutrina e História).
É uma questão de profunda preocupação que estados Europeus e os Estados Unidos estejam auxiliando os rebeldes Sírios a implantarem um “emirado” Islâmico, que inclui a restauração do sistema dhimma através da reencenação das condições de conquista da jihad contra os Cristãos.
Uma conversa com refugiados Sírios em Omã
Por Martin Janssen
Na terça, 21 de maio, uma caminhada de oração foi realizada na capital da Jordânia, Omã, ao cair da noite. Seu propósito era inquirir acerca do destino incerto de dois bispos Sírios que foram sequestrados mais de um mês atrás. Eu tinha combinado com alguns membros da congregação que frequento para participar e viajar para lá com eles. Durante a viagem, eu entrei em contato com um sacerdote Sírio de Aleppo que, após terminada a jornada, me apresentou a um grupo de Cristãos sírios refugiados. O sacerdote sugeriu que nós passássemos o resto da noite juntos, de modo que eu, como correspondente da Europa, pudesse ouvir histórias e testemunhos destes Sírios.
Refugiados Sírios de todos os backgrounds religiosos – não apenas Cristãos – não se sentem confortáveis em países vizinhos, tais como Líbano e Jordânia. Eles tiveram uma forte impressão de que não seriam bem vindos e a hostilidade aberta da população à eles é crescente. Na Jordânia, por exemplo, alguns parlamentares solicitaram ao governo por meses atrás para expulsar todos os refugiados sírios do país, porque eles representavam um risco à segurança. O problema é que esta acusação contém um fundo de verdade.
Nosso grupo de discussão noturna de 12 pessoas incluía alguns Cristãos jordânios. Eles relataram que poucas semanas atrás os serviços de segurança da Jordânia se empenharam em frustrar uma tentativa de homicídio de Abdullah, o monarca Jordânio. Este ataque foi planejado e orquestrado por uma célula terrorista da Síria, afiliada à Al-Qaeda, o movimento Jabhat AL-Nusra. Foi para escapar justamente de tais movimentos radicais Islâmicos que os Cristãos sírios fugiram para a Jordânia.
Meus interlocutores esta noite eram quase todos do norte da Síria. Eles vieram de Idlib, Aleppo e vilas na zona rural entre as duas cidades. O testemunho deles foi unânime. Muitas destas vilas tinham uma forte presença de Cristãos até alguns anos atrás, mas agora eles não vivem mais por lá. Um homem idoso de nome Jamil, contou a seguinte história, durante a qual outras pessoas meneavam a cabeça veementemente em concordância. Eles pareciam ter vivido exatamente as mesmas coisas.
Jamil vivia em uma vila próxima a Idlib onde 30 famílias Cristãs haviam sempre vivido pacificamente com outras 200 famílias Sunitas. Isto mudou drasticamente no verão de 2012. Em uma sexta-feira, diversos caminhões apareceram na vila com armamentos pesados e pessoas estranhas aos moradores locais. Por meio de um alto falante, reproduziam a mensagem de que a vila agora era parte de um emirado Islâmico e mulheres Muçulmanas seriam forçadas a se vestir de acordo com as determinações da Sharia Islâmica.
Aos Cristãos foram dadas quatro escolhas. Eles poderiam se converter ao Islã e renunciar sua “idolatria”. Se eles recusassem, seriam permitidos a permanecer com a condição de pagar a jizya. Esta é uma taxa especial que não Muçulmanos sob a lei Islâmica devem pagar por “proteção”. Para os Cristãos que recusassem, sobrariam duas opções: eles poderiam deixar para trás todas as suas propriedades ou seriam assassinados. A palavra que foi usada para esta ação em Árabe (dhabaha) se refere ao ritual de matança de animais para sacrifício.
Após Jamil ter finalizado sua história, um silêncio se seguiu. Eu perguntei a ele como as 30 famílias Cristãs em sua vila tinham perecido desde então. Ele respondeu que inicialmente um número de famílias, incluindo a sua, optaram por pagar a jizya. Quando o líder da milícia armada na vila deles, entretanto, percebeu que eles eram capazes de pagá-la, aumentou a quantidade de dinheiro nos meses seguintes.
Já o próprio Jamil, como quase todas as famílias Cristãs, fugiu de sua vila. Sua terra e fazenda foram perdidas. Algumas famílias Cristãs em sua vila, que não tinham como escapar ou pagar a jizya, se converteram ao Islamismo. Pelo seu conhecimento, não houve Cristãos mortos em sua vila, mas ele escutou outras histórias de uma vila vizinha onde apenas três famílias Cristãs sobreviveram. Todas as outras foram mortas no meio da noite.
Miryam, uma mulher Armênia de meia idade de Aleppo, deixou-me impressionado. Uma ameaça comum que perfazia todas as histórias de diferentes lugares do norte da Síria durante os relatos da noite era a constante reclamação de que as milícias armadas praticavam saques e pilhagens. De trigo, pão e diesel nas vilas até materiais de escolas, negócios e fábricas em Aleppo. Donos de fábricas que protestaram foram executados sem misericórdia. Miryam disse que conhecidos que fugiram para a Turquia souberam que membros destas milícias armadas estavam vendendo o “espólio de guerra” por preços módicos na Turquia.
Um comentário de Miryam permaneceu comigo nos dias seguintes. Ela me contou que aprendeu no ano passado que um ser humano tem a tremenda habilidade de se adaptar às mais difíceis condições. Eles tiveram que aprender a viver em Aleppo sem água ou comida, e às vezes sem eletricidade por dias no final. Eles até tiveram que se acostumar com o som de explosivos e armas de fogo que os impediam de dormir à noite.
Entretanto, o que um homem não pode viver é com o constante terror que o paralisa completamente; o medo diário de que o ônibus que transporta crianças para suas escolas possa ser alvo de um ataque suicida; o medo psicológico que vem sobre você no domingo quando se vai à igreja sabendo que há grupos ativos em sua vizinhança que consideram uma obrigação religiosa matar o máximo de Cristãos possível; e finalmente a situação que à noite você não consegue ir para cama após receber a notícia de que conhecidos e parentes foram surpreendidos por um míssil que os atingiu em sua propriedade enquanto dormiam; ou o que pode acontecer quando você passa horas em uma fila em uma das poucas padarias que ainda faz pães. Miryam me contou também que nunca havia imaginado que as atividades mais simples da vida poderiam, de repente, se tornar perigosas.
No final da noite eu lutei interiormente com uma questão que eu não conseguia expressar, mas que finalmente encontrei coragem para dizer. O que vem por aí? O que estes refugiados Sírios têm a dizer sobre seu próprio futuro e do Cristianismo na Síria? Mais tarde, eu percebi que, de fato, ninguém respondeu esta questão. A armênia Miryam disse que estava pensando em emigrar com a família para a Armênia, enquanto Jamil falou sobre parentes que viviam na Suécia. Talvez a resposta deles à minha questão estivesse escondida nestes comentários.
Logo após a meia-noite, fui para casa com os membros de minha igreja de Omã. Todos estavam em silêncio e pareciam perdidos em pensamentos. Eu deveria sair ao chegar à igreja. Esta igreja se situa numa colina que era quase sempre muito bem iluminada, mas eu tinha percebido recentemente que isso já não acontecia. Enquanto saía do carro, perguntei sobre a razão de desligarem as luzes e me disseram que “havia pessoas que a tinham tomado”. Eu também vi três jovens rapazes ininterruptamente vigiando a igreja. Quando perguntei se isto era necessário, a curta resposta que obtive foi: “sim”.
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FONTE: RELIGIOUS FREEDOM COALITION
TRADUÇÃO: JORGE ALBERTO
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* Fonte da foto: Reuters