Milhares fogem de um vilarejo em Ituri, levando tudo o que conseguem carregar, após ataque no dia 06 de maio. Um morador local disse que as pessoas eram vistas fugindo por uma área de quase 12 km. No dia 03 de maio, outro ataque tinha ocorrido: “entre as 20:00 e as 22:00, o inimigo conseguiu passar posições do exército e matar pacíficos residentes em suas casas, cortando suas gargantas”, disse o administrador local, Bernard Amisi Kalonda, à Agence France-Press.
Pelo menos nove pessoas foram mortas em um ataque, sob a suspeita de ter sido realizado por militantes islâmicos, no extremo oeste da República Democrática do Congo, elevando para aproximadamente 50 o número de mortes. O World Watch Monitor destacou que entre 20 e 40 moradores foram mortos após ataques durante a noite do dia 3 de maio em um vilarejo na província de North Kivu.
Um outro ataque ocorrido em 06 de maio na província de Ituri, um pouco mais ao norte, teve como consequência entre 09 e 15 mortos, incluindo a líder de louvor e a diaconisa de uma igreja local. Eles faziam parte de uma organização missionária denominada Eglise du Rocher, ou Igreja sobre a Rocha, a qual também perdeu o seu pastor e sua esposa em um ataque que aconteceu em Cadeau, no mês de outubro de 2014. A igreja, e também a escola ligada a ela, ainda precisam ser reabertas. Desde então, a igreja abandonou o seu trabalho missionário entre os pigmeus Mbuti.
“Nós estamos inconsoláveis, questionando a nossa fé, meio aterrorizados, mas determinados a continuar”, disse um missionário que optou por permanecer anônimo. “Nós somos uma pequena organização cristã, mas que tem crescido, fundada em 2005 e que que tem mais 13 igrejas e três escolas de treinamento ministerial na zona perigosa de North Kivu. Provavelmente temos sido alvos em razão de treinarmos líderes locais e aspirantes a missionários de diversas igrejas e denominações”.
A diaconiza Éva Makkanaiye, que tinha 40 quarenta anos, deixou 05 filhos: Eva-Mamulu, com 12; Alima-Franchine, com 9; Sami-Sumbuka, com 7; Unamosi-Jouele, com 4; e Amali-Daniel, com apenas 2 anos de idade. A líder de louvor, identificada apenas pelo seu primeiro nome, Rose, também deixou 05 crianças.
“Nosso pastor fugiu com dois de seus filhos. Durante toda a noite ele ficou sem saber sobre o paradeiro de sua esposa e de seus outros três filhos. Pessoas passaram a noite em meio a floresta de baixo de uma forte chuva. Nesta manhã, nosso pastor retornou e encontrou a sua esposa e seus outros filhos, todos vivos. Glória a Deus!”, disse o missionário.
O ataque do dia 06 de maio durou apenas 45 minutos, depois os agressores fugiram para se esconderem em meio ao mato, disse uma fonte local ao World Watch Monitor.
Os moradores locais expressaram raiva perante o fracasso das forças armadas da região em intervirem no ataque, o qual ocorreu a apenas 300 metros de uma base armada do Congo e a 500 metros de uma base da Organização das Nações Unidas. Os moradores ainda disseram que alertaram aos soldados acerca de “movimentos suspeitos” nas proximidades.
O porta-voz do exército do Congo disse que eles não tiveram condições de intervir, tendo em vista o ataque ter ocorrido muito rápido e durante o período da noturno. Teddy Kataliko, um representante da sociedade civil de Beni, solicitou uma “uma comissão parlamentar de inquérito para esclarecer as responsabilidades”.
Os moradores locais culpam a Muslim Defense International/MDI (Defesa Internacional Muçulmana) pelos ataques, também conhecida por Aliança das Forças Democráticas, entretanto, o grupo ainda não se posicionou a respeito da autoria do ataque.
“É evidente que este ato foi um atentado terrorista para desocupar a população Cristã de uma área gigante no Oriente do Congo”, disse outra fonte local, que não desejou ser nomeada. “Uma grande área ao sul de Eringeti já está abandonada. Agora as pessoas provenientes de uma área enorme ao norte de Eringeti estão fugindo. Quase todos são Cristãos”.
A MDI, que já tem uma aliança de 20 anos com os militantes de Uganda, esteve ligada primeiramente com o ex-ditador de Uganda, Idi Amin. Ela tem permanecido ativa nas regiões orientais da vizinha República Democrática do Congo, e É responsável pela morte de centenas de civis desde 2014, segundo a ONU.
A MDI tem repetidamente atacado a maioria Cristã da população localizada no oriente da República Democrática do Congo durante anos. Ela é acusada de receber apoio do governo islâmico do Sudão, uma afirmação feita pelo governo de Uganda e com apoio da diplomacia ocidental. O grupo é acusado de fomentar uma guerra do Sudão contra Uganda tendo em vista o suporte do governo de Uganda ao movimento separatista que dividiu a nação em Sudão e Sudão do Sul, 2011.
A MDI é conhecida por recrutar estrangeiros e por forçar Cristãos a se converterem ao Islã.
A população local é predominantemente cristã (95.8%) e o impacto sobre eles tem sido enorme. Após os ataques do dia 03 de maio, o World Watch Monitor ouviu de um pastor local que as pessoas estão com medo, algumas estão fugindo enquanto outras optaram por permanecerem na esperança que as coisas voltem ao normal.
Em uma carta publicada no último ano, os Bispos da Província de Bukavu, localizada na parte oriental da República Democrática do Congo, denunciaram um “clima de genocídio” e a passividade do Estado do Congo e da comunidade internacional.
“A situação precisa piorar ainda mais para que a comunidade internacional se preocupe e tome medidas contrárias ao jihadismo?” questionaram os Bispos em maio de 2015, segundo o qual “a estratégia de deslocamento forçado da população tem gradualmente ocupado as terras e instalado focos de fundamentalismo religioso e bases de treinamento terrorista”, relatou a agência católica de notícia Fides.
Omar Kavota, Chefe Executivo do Centro de Estudo para a Promoção da Paz, Democracia e Direitos Humanos disse à Rádio Okapi que a comunidade internacional deveria intervir.
“Nós estamos muito preocupados a respeito do crescimento da insegurança nas províncias do North Kivu e Ituri”, ele disse. “Na semana passada, aproximadamente 50 civis foram mortos. Nós estamos solicitando por solidariedade internacional para que as pessoas desta paste do país possam estar salvas das ameças e viver em paz e em segurança”.
Algumas imagens surgiram após os ataques do dia 03 de maio, mostrando os corpos das mulheres e crianças mortas.
O jornalista de rádio Yassin Kumbi falou à imprensa de língua francesa: “Estou acostumado a esses ataques desde o ano de 2014, mas devo admitir que descobri um carnificina quando cheguei em Eringeti. Fiquei particularmente chocado com o fato de que a maioria das vítimas eram mulheres e crianças. O menor das vítimas pode ter apenas alguns meses de idade”.
Oito mulheres – duas delas grávidas – e quarto crianças foram mortas, de acordo com os dados oficiais.
“Eu vi mulheres grávidas e crianças mortas!” relatou um dos moradores.
Kumbi ainda adicionou: “Eu conversei com os sobreviventes. Eles estavam traumatizados e não esperavam pelo ataque. Anúncios na rádio local foram feitos para dizer que a área estava sob controle e que não havia ocorrido nenhum ataque na área de Beni por um mês. Mas logo após estes anunciamentos, o primeiro ataque aconteceu em Kamangu, a 11 quilômetros de Eringeti. O surto de ataques sugere que os agressores desejam mostrar que eles ainda estão pela área e prontos para atacar a qualquer momento.”
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Fonte: World Watch Monitor
Tradução: Natammy Bonissoni e Camila Balbino l ANAJURE
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