Tensões têm surgido entre muçulmanos e Cristãos na Indonésia – o país islâmico mais populoso do mundo – depois de um motim eclodir no mês passado na ilha predominantemente Cristã (70%) de Papua.
Jornais nacionais relataram que, na medida em que muçulmanos na região do Tolikara se reuniram para marcar o fim do mês muçulmano do Ramadã, em 17 de julho, um grupo de jovens cristãos atirava pedras contra eles e atearam fogo a alguns quiosques nas proximidades. Foi também alegado que os cristãos proibiram muçulmanos de orar por alguns dias antes disso.
A Igreja Evangélica da Indonésia (GIDI), a qual pertencem os jovens cristãos, pinta um quadro diferente de como os acontecimentos se desdobraram. (A GIDI foi criada em 1963 e tem mais de um milhão de membros e 2.000 igrejas na Indonésia.)
“Nós nunca proibimos as congregações muçulmanas de orar,” escreveu Dorman Wandikmo, presidente da Comissão de Trabalho da GIDI, em uma carta aberta. “Nós apenas enviamos uma notificação ao escritório da polícia local sobre um evento especial da igreja duas semanas antes [uma vez que coincidia com o festival Eid al-Fitr], recomendando que ambos, a igreja e a mesquita, não usassem alto-falantes para evitar perturbarem um ao outro.”
De acordo com Wandikmo, a polícia e o exército falhou em circular a notificação. Então, quando um grupo de jovens cristãos se aproximou dos muçulmanos para pedir-lhes que desligassem seus alto-falantes, ele afirma que a polícia tomou isso como um sinal de confronto e abriram fogo contra os cristãos, matando um menino de 15 anos de idade e ferindo 12 outros jovens.
As tensões logo se intensificaram, o que levou os cristãos irritados a atear fogo a um quiosque. As chamas se espalharam rapidamente e queimaram um musholla nas proximidades (sala de oração muçulmana).
Em seu comunicado, a polícia alegou que só abriu fogo depois de disparar alguns tiros de aviso para os jovens, os quais, segundo eles, se recusaram a sair e até mesmo começaram a atirar pedras contra o musholla.
No entanto, um representante da Missão Portas Abertas International, que trabalha para apoiar Cristãos sob pressão por causa da fé, questionou a legitimidade da declaração da polícia. “As forças armadas em Papua há muito tempo são conhecidas pelas atrocidades e violações dos direitos humanos contra povos indígenas,” disse o representante, que não quis ser identificado.
“O tiroteio e o incêndio criaram a impressão de que a Igreja era hostil aos muçulmanos,” Natalius Pigai, o comissário da Comissão Nacional para os Direitos Humanos, explicou.
Em Solo, Java Central, os Combatentes Muçulmanos de Surakarta confrontaram uma igreja GIDI em 18 de julho para exigir seu fechamento. Dois dias depois, duas casas de oração em Yogyakarta e Purworejo foram incendiadas.
Em 22 de julho, o Ministro encarregado de Assuntos Políticos, Jurídicos e de Segurança, Tedjo Edhy Purdijatno, exigiu que a segurança ser reforçada em todo o país para proteger igrejas.
No entanto, a mensagem parecia ter pouco efeito. Primeiro, duas igrejas foram obrigadas a fechar em Java Central. Então, em 25 de Julho, os membros de outra igreja na capital, Jacarta, demoliram sua própria igreja, após o governo local dizer à igreja que não tinha sido devidamente registrada e era, portanto, ilegal. (Muitas igrejas foram fechadas na Indonésia por falha de obter uma permissão. Estas são especialmente difíceis de obter em regiões de maioria muçulmana do país.) Os membros da igreja foram informados de que poderiam destruí-lo eles mesmos, ou o governo iria fazer isso para eles.
Nesse mesmo dia, dois membros da congregação GIDI foram apontados como suspeitos no caso Papua. (A mídia local tem se referido a eles apenas por suas iniciais, HK e JW, para proteger suas identidades.) Ambos foram acusados de instigar um motim e se engajar em vandalismo. O governo também está investigando mais de 30 policiais envolvidos no incidente, bem como Dorman Wandikmo da GIDI.
“Quaisquer instituições religiosas que proíbam outros de orar e adorar, e até mesmo cometer violência, são infratores da Constituição,” disse Lukman Saifuddin, o Ministro de Assuntos Religiosos, num comunicado à imprensa, referindo-se a GIDI. “Aqueles que são comprovados como os atores devem ser legalmente processado.”
No entanto, Jayadi Damanik, coordenador da secretária Liberdade de Religião e Crença na Comissão Nacional de Direitos Humanos, afirma que a aplicação da lei na Indonésia é frequentemente abusada para visar grupos minoritários.
“Oficiais aplicadores da lei frequentemente processam as minorias com punição máxima, mas, ao mesmo tempo, deixam de punir [maioria] perpetradores,” disse ele no Dia Internacional da Tolerância em novembro de 2014.
Muçulmanos na Indonésia representam 88 por cento da população, Cristãos em torno de 10 por cento. A Indonésia é nº 47 na World Watch List 2015 da Portas Abertas Internacional e no início de 2000 testemunhou um conflito religioso sangrento que custou a vida de 7.000 e deslocou mais de 30.000.
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FONTE: World Watch Monitor
TRADUÇÃO: Isabela Emerick l ANAJURE