Libertadas do Boko Haram, meninas de Chibok voltam para casa

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As 21 garotas de Chibok em encontro com o Presidente Buhari e Vice-Presidente Osinbajo, em Abuja, capital da Nigéria.

Ao encontrarem o Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, no dia 13 de outubro, as 21 estudantes libertadas pelo Boko Haram agradeceram o líder do país por sua colaboração no processo de libertação e resgate. Rebeca Mallum disse: “Estamos felizes em participar deste dia maravilhoso porque não sabíamos se voltaríamos a estar na Nigéria. Permita-nos agradecer a Deus pelo seu amor”.

Ao falar com a CNN, algumas das garotas compartilharam seus planos de retornarem à escola. Compete ressaltar que “Boko Haram” traduzido do idioma Hausa significa “educação ocidental é proibida”.

As garotas passaram por avaliações psicológicas na capital nigeriana, Abuja. Os pais já descreveram abusos relatados como o caso de uma menina que recebeu ameaça de morte ao ter se recusado a casar com um combatente do Boko Haram. Ela não foi assassinada mas, ao final, recebeu 100 chicotadas.

O Ministro da Informação da Nigéria, Lai Mohammed, falou sobre a libertação das 21 garotas e de um menino nascido em cativeiro: “Este é o primeiro passo em direção daquilo que acreditamos que será a libertação completa de todas as garotas remanescentes”. “Já estamos na segunda fase das discussões”, afirmou no dia 16 de outubro. “Claro que são negociações delicadas, nós nos comprometemos a manter a confidencialidade sobre isto e pretendemos cumprir com a nossa palavra”.

De acordo com o Assistente Especial de Mídia do Governo, Malam Garba Shehu, uma pequena parte do Boko Haram deseja iniciar uma negociação para libertar as 83 meninas que ainda estão sob domínio do grupo. A CNN relatou ainda que outras 114 garotas estão mortas, ou não desejam deixar seus sequestradores tendo em vista estarem atualmente casadas ou terem optado pelo radicalismo.

Esta liberação foi a segunda vez em que parte das 219 meninas sequestradas (mais de 50 estudantes conseguiram escapar logo após terem sido raptadas) encontraram liberdade. Amina Ali Nkeki, de 19 anos, foi a primeira das 219 a ser encontrada viva na Floresta Sambisa. Nkeki revelou que tinha a informação que 6 das 219 meninas sequestradas haviam morrido. Se as negociações para liberarem mais 83 estudantes forem bem-sucedidas, ainda restarão ao menos 100 meninas desaparecidas ou sob o domínio do Boko Haram.

Existem relatos conflituosos acerca dos termos para a liberação das garotas, mediados pelo Governo da Suíça e pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha. O governo negou qualquer troca de prisioneiros, mas de acordo com informações fornecidas pela Associated Press, quatro comandantes do Boko Haram que estavam detidos foram libertados; a AP também relatou que um grande resgate foi pago pelo governo suíço em favor das autoridades nigerianas.

As meninas libertadas finalmente encontraram seus familiares no domingo, na capital nigeriana, após alguns pais terem viajado durante dias para o encontro tão esperado. Uma das meninas, Gloria Dame, afirmou ter sobrevivido 40 dias sem comida e ter escapado da morte pelo menos uma vez.

Muta Abana, após ter se encontrado com sua filha, Blessing, disse achar que o sequestro das meninas tenha ocorrido por motivações políticas e ainda expressou seu lamento afirmando: “os filhos das pessoas não são dinheiro ou roupas que podem ser utilizadas em campanhas; filhos são os orgulhos de seus pais”.

Atualmente as garotas estão em um hospital recebendo atenção médica e aconselhamento psicológico.


——— INFORMAÇÕES ANTERIORES:

14 de outubro

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Vice Presidente: “Todo o país estava aguardando pelo dia em que veríamos vocês novamente”.

As adolescentes de Chibok foram liberadas no amanhecer do dia 13 de outubro, em Banki, próximo à fronteira do país com Camarões. Elas foram levadas até a capital, onde se encontraram com o Vice-Presidente.

“Todo o país estava aguardando o grande dia em veríamos vocês novamente e estamos felizes por termos vocês de volta”, disse Yemi Osinbajo.

“O Presidente me pediu para falar a todas vocês o quão feliz ele está. Enquanto vocês estavam longe, ele vivia dizendo que ele não saberia o que fazer se isto tivesse ocorrido com a sua própria filha”. “Estamos todos felizes por vocês estarem aqui. Felizes por Deus ter preservado suas vidas e ter trazido vocês de volta”.

O assessor do Presidente, Garba Shehu, disse que o fato das garotas terem sido liberadas foi “resultado de negociações entre o governo e o Boko Haram, mediadas pela Cruz Vermelha e o governo suíço”.

As conversas com o grupo radical islâmico continuam, de acordo com o governo da Nigéria.

Fotos liberadas pela mídia local e por representantes da Presidência mostram uma das garotas segurando um bebê durante o encontro com o vice-Presidente. Muitas delas aparentavam fraqueza. A maioria das meninas foram convertidas à força ao islamismo e forçadas a se “casar” com seus sequestradores.

O governo da Nigéria compartilhou o nome das 21 meninas liberadas:

1.      Mary Usman Bulama

2.      Jummai John
3.      Blessing Abana
4.      Luggwa Sanda
5.      Comfort Habila
6.      Maryam Basheer
7.      Comfort Amos
8.      Glory Mainta
9.      Saratu Emmanuel
10.    Deborah Ja’afaru
11.    Rahab Ibrahim
12.    Helin Musa
13.    Mayamu Lawan
14.    Rebecca Ibrahim
15.    Asabe Goni
16.    Deborah Andrawus
17.    Agnes Gapani
18.    Saratu Markus
19.    Glory Dama
20.    Pindah Nuhu
21.    Rebecca Mallam.
13 de outubro

O Boko Haram libertou 21 meninas sequestradas em Chibok, em abril de 2014, em Maidugiri (local onde o Estado islâmico tem se fortalecido), de acordo com o porta-voz do Presidente da Nigéria.

Passaram-se dois anos e meio desde o dia em que 275 estudantes foram raptadas em seus dormitórios em Chibok, na região nordeste do Estado de Borno. O desaparecimento virou manchete no mundo todo e encheu as redes sociais com a hashtag #bringbackourgirls.

A libertação das meninas no dia 13 de outubro foi a primeira vez em que as garotas foram encontradas desde maio, quando duas meninas foram encontradas num espaço de dois dias. Amina Nkeki foi a primeira das meninas resgatadas em maio, e dois dias depois Serah Luka foi encontrada. Posteriormente foi constatado que Serah Luka não era uma das meninas Chibok.

Nkeki escapou com seu marido, um combatente do Boko Haram com o qual ela fora forçada a se casar, e com seu filho. A jovem apelou em favor de seu esposo, alegando que o mesmo também havia sido forçado a lutar em prol do grupo e o defendeu diante das autoridades, alegando ter sido bem tratada por ele.

Um mês após o retorno de Nkeki, alguns membros do “BringBackOurGirls” (BBOG) (grupo que trabalha em favor do resgate seguro das meninas) expressaram preocupação sobre o paradeiro de Nkeki, afirmando que ela estivesse sob controle do governo e que, aparentemente, ela estivesse sendo tratada como uma muçulmana (decisão tomada de maneira forçada).

O Presidente Muhammadu Buhari prometeu que o governo “fará todo o possível” para garantir que a jovem receba os devidos cuidados e que seja garantida sua recuperação total até que ela seja completamente reintegrada à sociedade. Alguns membros do “BringBackOurGirls” estavam preocupados em razão dela não ter sido autorizada a retornar para a sua família cristã, o que seria fundamental para a recuperação de todo o trauma.

O Presidente da Igreja Ekeklesiya Yan’uwa Nigeria (EYN), Rev. Joel Billi, disse ao World Watch Monitor que as 201 meninas ainda sequestradas pertencem a sua igreja.

“Eu teria celebrado mesmo se apenas uma pessoa tivesse sido libertada. Eu estou muito, muito feliz em ouvir que 21 delas foram liberadas. Meu coração também se regozijará brevemente naquele dia em que a maioria delas, senão todas, forem libertadas.”

–Rev. Joel Billi, EYN

Em setembro, o governo da Nigéria divulgou pela primeira vez detalhes da tentativa fracassada de libertação das garotas em negociações iniciadas em julho de 2015, logo após o Presidente Buhari ter assumido o cargo. As negociações falharam três vezes – uma após o presidente ter acordado em libertar um militante do Boko Haram e outra porque membros do grupo radical foram assassinados.

Em agosto, o Boko Haram liberou um vídeo em que alguns meninas Chibok aparentam estar fisicamente fracas e traumatizadas. A publicação também mostrou um homem mascarado solicitando a libertação de militantes em troca das estudantes, e a estudante Maida Yabuku, implorando a seus pais que apelem ao governo em favor da petição do grupo.

Em abril, outro vídeo foi liberado. Aparentemente filmando no dia do natal, 25 de dezembro de 2015 e transmitido pela CNN – e por outros lugares – o vídeo mostra 15 garotas implorando ao governo para que este colaborasse com o processo de libertação. Elas ainda afirmaram estarem sendo bem tratadas mas mesmo assim gostariam de estar com seus familiares.

Alguns pais identificaram suas filhas através das imagens. Duas mães, Rifkatu Ayuba e Mary Ishaya, afirmaram ter reconhecido suas filhas através do vídeo, enquanto uma a terceira mãe, Yana Galang, identificou 5 das meninas desaparecidas, segundo a agência Reuters. Outra mãe disse que sua filha parecia estar bem, melhor do que o esperado, trazendo esperança a outras famílias;

Os pais têm estado sob muita tensão e pelo menos 18 deles faleceram em decorrência de doenças relacionadas ao estresse; três foram assassinados por combatentes e outros ainda passam por problemas de saúde relacionados ao nervosismo e ansiedade.

Forçadas à conversão e ao casamento

A maioria das garotas foi forçada a se converter ao islã. É temerário que boa parte delas também tenha sofrido abusos sexuais e forçadas a se “casar” com seus sequestradores.

Um relatório produzido pela Rede de Pesquisa sobre a Violência na Nigéria  “Our Bodies, their Battleground” (Nossos corpos, o campo de batalhas deles), descreveu este tipo de tratamento com a minoria cristã localizada no norte da Nigéria, ocorrido em 1999. Ele revela o quão efetivo e eficiente são os ataques à mulheres e meninas – em razão dos efeitos devastadores que isso traz para as comunidades.

Famílias e comunidades inteiras são regularmente “desonradas”, levando maridos a rejeitarem suas mulheres que vítimas de estupro, e os filhos sentirem vergonha de suas mães.

O estupro também é justificado pelo Boko Haram com fundamento no “sexo como jyzia” , uma referência à taxa que governantes islâmicos cobravam dos não muçulmanos para sua própria proteção.

Para centenas de garotas sequestradas pelo Boko Haram, o pesadelo ainda não acabou. Ao invés das meninas serem reconhecidas por sua bravura, muitas são exiladas em suas próprias comunidades e estigmatizadas pela sua proximidade com o grupo terrorista, segundo relatos da agência IRIN.

Além disso, outras mulheres – grávidas após terem sido violentadas pelos seus sequestradores – têm sido humilhadas e acusadas de carregarem em seus ventres futuros combatentes do Boko Haram”, relatou a IRIN.

Tudo isso leva à mensagem de Angelina Jolie: “estupro como ‘política’ utilizada para a destruir e aterrorizar comunidades”, uma frase dita pela atriz no Parlamento do Reino Unido em junho de 2014, e repetida na Câmara dos Lordes, em setembro de 2015.

“Grupos terroristas como o Estado Islâmico estão ditando tal prática como política … Além de tudo aquilo que já vimos antes”, disse Jolie como enviada especial da ONU. A atriz destacou que os grupos sabem que “esta é uma arma efetiva e eles a estão utilizando instrumento de terror para destruir comunidades e famílias, as atacando e desumanizando”.

Jolie também compartilhou histórias de garotas com quem ela se encontrou nas zonas de guerra, relatos de repetidos abusos e de algumas delas chegarem a ser vendidas pela quantia de 40 dólares. Em 2014, a atriz auxiliou na organização da cúpula mundial que ocorreu em Londres, em 2014, a qual recebeu representantes de mais de 100 países que buscam a sensibilização da questão da violência sexual em conflitos, especialmente a respeito do estupro ser utilizado arma de guerra.

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FONTE: World Watch Monitor
TRADUÇÃO: Natammy Bonissoni l ANAJURE

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