Nuri Kino é um jornalista independente que vive na Suécia. Seu relatório, intitulado "O Campo", que examinou a construção de um campo de refugiados em massa para Cristãos Sírios dentro da Turquia, foi publicado em 05 de maio no World Watch Monitor.
Esta manhã eu recebi um telefonema de Mary, uma amiga que está na Suécia e nasceu na Síria. Ela queria que eu verificasse a minha conta do Facebook. Uma jovem Síria, Nour, queria ser minha amiga. Eu aceitei o pedido. Um minuto depois, Nour me escreveu sua primeira mensagem. Tinha fotos de Tabqa, uma cidade que foi totalmente esvaziada de Cristãos sírios. Nour também tinha as informações de contato das vítimas do fundamentalismo islâmico. As vítimas, querem que o mundo saiba o que aconteceu com elas. Um grupo não-Sírio, Mujahedeen, os acolheu fora de suas casas. A mensagem dos autores era "converter ao Islã ou sair". Chamei uma das vítimas, e ouvi histórias horríveis sobre a limpeza étnica e religiosa.
Cristãos na Síria são um grupo vulnerável. Compreendem cerca de 12 por cento da população. Tabqa costumava ser uma cidade moderna, com cinemas, cabeleireiros, lojas de moda e restaurantes. Agora é dirigida por homens barbados, que já não permitem nada disso.
Uma hora depois da minha entrevista com aquela refugiada, o Secretário de Estado Norte-Americano, John Kerry, declarou: "deve haver prestação de contas" em nome das vítimas de um ataque de arma química. Considerando todas as evidências emergentes de testemunhas, a partir de imagens, a partir de grupos de direitos humanos e de informação médica fornecida por Médicos Sem Fronteiras, Kerry disse que "tudo isso indica fortemente que armas químicas foram utilizadas na Síria", e que elas foram disparadas pelo governo Sírio.
A organização Médicos Sem Fronteiras não gostou de seus relatórios médicos serem usados como justificativa para uma possível ação militar. Ela emitiu um comunicado destacando que apenas "uma investigação independente" pode determinar se as centenas de corpos que chegaram em hospitais em 21 de agosto foram mortos por armas químicas, e que a organização não colocou a culpa em ninguém.
Enquanto eu estava contectado ao YouTube para ouvir o discurso de Kerry novamente, um dos refugiados sírios que se refugiou no Líbano me chamou. Ninos queria saber se eu achava que a OTAN iria bombardear a Síria. Sua família continua na Síria. Eles fugiram de Homs, controlada pelos rebeldes, para os subúrbios controlados pelo regime. Eles se sentem mais seguros em áreas onde o regime pode protegê-los, onde al-Nusra ou outros fundamentalistas islâmicos não podem persegui-los. Ninos disse que ele está com medo de que, se os EUA e seus aliados entrarem na guerra, os cristãos poderão sofrer duplamente, e que eles vão ser bombardeados junto com os alauítas, uma seita Muçulmana que tem 15% de sírios, incluindo o presidente Bashar al-Assad, que pertence a ela .
No final de seu discurso, Kerry declarou que os EUA devem proteger os mais vulneráveis. Gostaria de saber se ele e os aliados americanos atualmente expressando indignação, já pensaram em cristãos como Ninos, sua família, e Nour. Eles não mataram uma única alma. Eles definitivamente não intoxicaram ninguém com gases. E eles são os sírios mais vulneráveis de todos.
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FONTE: WORLD WATCH MONITOR
TRADUÇÃO: ROMULO MOURA