Prêmio da Paz é concedido aos principais clérigos da República Centro-Africana

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Rev. Nicolas Guérékoyamé Gbangou; Imam Omar Kobine Layama e Arcebispo Dieudonné Nzapalainga. Foto do dia 13 de novembro, tirada durante a cerimônia de premiação em Washington, DC.

 

O prêmio foi concedido aos três principais líderes religiosos da República Centro-Africana em reconhecimento aos seus esforços em prol da paz no país, que foi devastado pela guerra.

Rev. Nicholas Guérékoyamé Gbangou, 55 anos, presidente da Aliança Evangélica; Imam Oumar Kobine Layama, 53, presidente da Comunidade Islâmica;  e o Arcebispo Dieudonné Nzapalainga, 46, Arcebispo de Bangui, estavam entre os cinco honrados pela Busca Por Uma Terra Comum em uma cerimônia que aconteceu no dia 13 novembro em Washington, DC.

No meio de um país que está em conflitos violentos há dois anos, muitas vezes retratado como um conflito confessional, os três clérigos formaram uma plataforma conjunta para promover a coexistência pacífica entre cristãos e muçulmanos. A mensagem deles era: A violência na RCA não é causada principalmente por conflitos religiosos; em vez disso, a raiz do conflito reside na luta pelo poder político.

Os homenageados da República Centro-Africana disseram: “Por muitos anos, muçulmanos e cristãos viviam em harmonia no que diz respeito às crenças que cada um professa. Quando os políticos querem usar a religião para dividir o povo, seja para manter o poder ou para conquistá-lo, nos levantamos como se fôssemos um único homem para dizer "não" a esta guerra e "sim" para a paz”.

Este ponto de vista é reafirmado por Imam Layama, ao dizer que o prêmio é um incentivo em favor da paz, não só na RCA, mas para o mundo. "É uma força para promover a paz, justiça e equidade entre os homens, e uma arma para combater todas as formas de extremismo religioso que os políticos usam para explorar as nossas religiões."

Os três clérigos viajaram por todo o país, em áreas atormentadas pela violência, com o objetivo de facilitar o diálogo entre os membros da comunidade cristã e muçulmana e realizar reuniões na comunidade para reconstruir a confiança. Eles também visitaram capitais europeias – Roma, Bruxelas, Paris, Londres e Amesterdã – para defender a causa de seu país. Eles se reuniram com líderes mundiais como o Papa Francisco no Vaticano e Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, em Nova York. O trabalho de base diplomática levou à implantação das forças de paz da ONU na RCA em setembro.

Por seus esforços, a revista Time nomeou-os entre as 100 pessoas mais influentes do mundo em 2014, enquanto a revista francêsa Le Monde chamou-os de "os três santos de Bangui."

O Preço da Paz

Este compromisso em prol da paz não vem sem um preço. Guerekoyame estava ausente, viajando pela Europa em janeiro, quando a sua filha que estava doente, morreu. “Parecia negligência criminosa" por estar longe, disse ele em seu discurso na cerimônia de premiação. "Mas hoje, a minha família e todos os outros centro-africanos ainda vivem tentando entender isso, através deste reconhecimento por parte da  Busca Por uma Terra Comum, que, para receber este prêmio pela paz em nome de todo um país e de toda uma geração, as ações difíceis são, por vezes, necessárias”.

Em agosto de 2013, o Rev. Guerekoyame foi preso por causa de alguns comentários feitos sobre o governo em um sermão. Apesar de ser um membro do Conselho Nacional de Transição (CNT), um ramo de atuação do parlamento criado após o golpe militar de 2012 que lhe concedeu imunidade, ele foi colocado em prisão.

Em resposta, Nzapalainga entregou-se às autoridades carcerárias como um ato de solidariedade. ''Eu fui para a prisão e pedi uma esteira para que eu pudesse ficar com o Rev. Nicolas. Não importava qual fosse o tempor: 3 dias, ou meses, eu estava determinado a permanecer na prisão com ele", disse o arcebispo a um Correspondente da World Watch Monitor.

Guerekoyame foi libertado após a intervenção do Ministro do Interior.

O compromisso dos três clérigos também foi marcado por outros episódios dramáticos, lembrados por Nzapalainga.

Em dezembro de 2013, aconteceu uma erupção de violência que se seguiu à ofensiva de milicianos Anti-Balaka em Bangui, forçando Imam Layama a deixar sua casa e procurar abrigo na paróquia St. Paul. "Quando a vida de um irmão é ameaçada, devemos prestar-lhe assistência", disse Nzapalainga. "Por mais de cinco meses, recebemos Imam Layama e sua família em nosso meio. Isso nos aproximou muito. Nós compartilhamos as refeições e discutimos sobre uma forma de encontrar soluções para a crise na RCA”.

Outros episódios dramáticos

A violência na CAR já tirou a vida de vários clérigos. Em 12 de outubro, um padre polonês foi sequestrado por homens armados no extremo oeste do país, perto de Camarões. Rev. Mateusz Dziedzic, da Diocese de Tarnow, em Baboua, foi seqüestrado por membros de um grupo rebelde chamado Frente Democrática Central Africana Popular (FDPC). Os seqüestradores exigiram a libertação de seu líder preso em Camarões, em troca de Dziedzic.

Este prêmio em Washington DC. não foi o primeiro a honrar a contribuição de clérigos para a paz no RCA. Em setembro, a Human Rights Watch honrou o Rev. Bernard Kinvi, que salvou a vida de centenas de muçulmanos que ele abrigava na Igreja Católica. 

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FONTE: World Watch Monitor
TRADUÇÃO: Fernando Souza l ANAJURE

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