O poder do perdão
Jovem que teve seu braço amputado em acidente disse que perdoa o atropelador
Por Valmir Nascimento
Em entrevista ao SPTV, o jovem ciclista David Souza dos Santos – que foi atropelado recentemente na Avenida Paulista em São Paulo e teve o seu braço amputado – disse que quer perdoar o atropelador e deseja que outras pessoas não sofram a mesma violência. Ele declarou: “E gostaria de perdoar o cara que fez isso comigo, que gostaria que nada disso acontecesse comigo nem com outras pessoas. E um abraço bem forte pra todos”.[1]
O atropelador que David pretende perdoar é o estudante Alex Siwek que, mesmo após a colisão, fugiu do local sem prestar atendimento e com o braço direito da vítima presa ao para-brisa do carro. Depois, foi à Avenida Doutor Ricardo Jafet, de onde lançou o braço do ciclista em um córrego.
Naturalmente, a primeira reação que temos diante de uma declaração de perdão como essa é de incompreensão e de desconcerto. Como pode o ofendido perdoar o ofensor em tal situação?
Em uma sociedade de ressentimentos, mágoas e sede de vingança pessoal, o perdão do jovem David nos faz refletir sobre a importância do perdão. Quantas pessoas vivem amarguradas e trancafiadas nos grilhões do ódio e da raiva? Pessoas que não conseguem perdoar e se deixam consumir diariamente por sentimentos de raiva e ódio? Filhos que não conseguem perdoar seus pais e pais que não perdoam seus filhos? Colegas de trabalho que vivem anos e anos sem se relacionar, porque não puderam perdoar uns aos outros?
Benjamin Fraklin dizia que as três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo. Por isso é tão difícil perdoar. É uma ação que requer coragem, graça e, sobretudo, amor. Coragem para contrariar o senso comum de “olho por olho e dente por dente”. Graça para perdoar o ofensor não porque ele merece, mas como o oferecimento de uma dádiva. E amor, pois, não há perdão verdadeiro sem amor. Seja o amor próprio, seja o amor pelo próximo. Como disse Jesus, o segundo mandamento é amar ao próximo como a si mesmo (Mc 12.31).
O estudo etimológico da palavra perdão também nos diz muita coisa. Como escreve J. B. Libâneo [2], a “partícula latina per significa, em algumas palavras, que aquela realidade é levada a seu grau maior. Vejam o próprio termo perfeição. “Feição” na sua raiz significa algo feito, vindo do verbo fazer. Se aquilo que fazemos chega a um nível muito elevado, exprimimo-lo com o afixo per e temos, portanto, a per+feição”.
Assim acontece com doar, acrescenta Libâneo. “Se nosso gesto de doação, de dom atinge o grau mais sublime, traduzimos tal realidade acrescentando o mesmo afixo per. Temos então per+doar, per+dom. Portanto, perdoar é doar-se em plenitude. Mas como? A plenitude do dom é a vida. Perdoar é restituir à vida a quem nos ofendeu. Toda ofensa, em grau menor ou maior, é um atestado e um atentado de morte contra a vida. O outro está aí vivo, feliz e, pelo ataque ou agressão, alguém lhe atenta contra a vida. Quem o faz está morto por dentro. Desejar o mal a alguém mata primeiro quem o deseja e só depois a quem o atinge”.
Perdão, portanto, é um ato sublime de doação; de entrega. Nesse sentido, o exemplo mais claro dessa entrega é o próprio Senhor Jesus (Jo 3.16, Rm 8.32). As Escrituras dizem que ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Is 53:5). E o mais interessante é que ele está disposto a perdoar (Cl 1.14; Mt 26.28).
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[1] Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/03/ciclista-que-teve-braco-amputado-diz-que-gostaria-de-perdoar-atropelador.html
[2] Disponível em: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=1281
Fonte: CPAD NEWS