[Os refugiados rohingya que fugiram de Myanmar esperam para serem libertados por guardas de fronteira do Bangladesh depois de atravessar a fronteira em Palang Khali – Bangladesh 9 de outubro de 2017. REUTERS / Damir Sagolj]
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O retorno dos muçulmanos rohingyas ao seu país de origem Myanmar estava previsto para esta terça, 23, e foi adiado por Bangladesh, segundo o comissário da Comissão de Refugiados e Repatriamento do país, Abul Kalam, que não detalhou a decisão, mas afirmou que o assunto está sendo tratado.
Desde agosto de 2017, mais de 650 mil muçulmanos Rohingya migram de Myanmar para Bangladesh fugindo dos conflitos entre seus militares e o exército birmanês. Segundo relatos do Alto Comissário da ONU para direitos humanos, Zeid Ra’ad al-Hussein, o exército birmanês incendiou vilarejos, matou civis e espalhou minas terrestres na fronteira com Bangladesh. Esses episódios, segundo Zeid Ra’ad al-Hussein, configuram os acontecimentos aos rohingyas como “limpeza étnica”.
A própria comunidade também acusa o exército birmanês de massacres e atos de tortura, e diz não se sentir apta a voltar ao país de origem, uma vez que sua segurança é ameaçada pelo governo. O governo de Myanmar recusa reconhecer a etnia e a população rohingya exige um “Estado muçulmano democrático” num país já existente. Em Myanmar, a etnia não possui documentos ou acesso ao mercado de trabalho e a serviços públicos, como escolas e hospitais, e é proibida de casar, viajar sem autorização governamental e possuir terras ou propriedades.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) afirmou que a crise dos rohingyas é uma das mais longas da história, sendo invisível perante as autoridades. A nacionalidade birmanesa lhes foi retirada em 1982 pelo regime militar, deixando a comunidade sem referência de pátria. Visto isso, a ONU aprovou uma resolução que incitava o Myanmar a consentir o acesso à cidadania para esta comunidade, em dezembro de 2014. Desde então os rohingyas habitam o segundo estado mais pobre do Myanmar, Rakhine, e correspondem a 5% dos 60 milhões de habitantes do país.
Considerado um país de forte tradição budista, o Myanmar tem discriminado os muçulmanos rohingyas, que não possuem origem certa. Pertencentes a uma etnia minoritária existente no país, a comunidade rohingya é considerada a maior população apátrida do mundo e hoje tem optado viver em campos de refugiados em Bangladesh devido aos conflitos já mencionados. Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM) da ONU, a saída em massa dos rohyngias para Bangladesh não possui uma previsão de diminuição, e estima-se que desde o início da migração em agosto de 2017, outras 100 mil pessoas cruzaram a fronteira em busca de melhores condições de vida.
A ANAJURE em parceria com a FPMRAH (Frente Parlamentar Mista para Refugiados e Ajuda Humanitária) desenvolveu, em agosto do ano passado, uma Nota Pública (Nota-Publica-Myanmar) em que são feitas revindicações ao governo do Myanmar com o objetivo de garantir o abandono das políticas restritivas cometidas pelo mesmo contra os muçulmanos Rohingya.
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Por: Redação l ANAJURE
Com informações de dn.pt