Interceder é estar “entre as partes” ou “agir como mediador”[1]. Essa definição soa familiar para os advogados? Eu penso que sim. Eles são, em um sentido muito importante, intercessores, os “intermediários” entre seu cliente e o juiz ou outra parte, falando de forma persuasiva em seu nome enquanto defendem a justiça.
A intercessão acontece diariamente nos tribunais com advogados intercedendo por clientes, mas também em reuniões contratuais com advogados representando uma parte para outra, e no escritório sempre que um sócio representa o outro. Goste ou não, a profissão jurídica é sobre interceder ou representar em nome de alguém. Se você está na faculdade de direito, não demorará muito para entender isso e aprender as regras sobre como manter a confiança, referências e responsabilidade.
A cosmovisão cristã informa dinamicamente o que significa intercessão e, especialmente para os advogados, a Bíblia dá muitas razões para ser o que eu chamaria de “intercessores intencionais”.
Em primeiro lugar, há um intercessor final e único, Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus. Quando Adão e Eva pecaram, houve como resultado, um grande abismo criado entre Deus e a humanidade, porque nossos pecados nos separam do Deus santo e justo.
Em uma demonstração de amor perfeito e incondicional, Deus enviou seu Filho para salvar os pecadores. A morte de Jesus na cruz foi o maior ato de intercessão da história humana. É por isso que o apóstolo Paulo escreveu em 1 Tm 2 “há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, que assumiu a forma humana e se deu a si mesmo como resgate por todos”. Pedro declara “Cristo morreu uma vez por todas pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus” (1 Pe 3:18). Por meio de seu sacrifício, o Justo (Jesus) “passou entre” a terra e o céu, Deus e nós (os injustos).
Uma das verdades maravilhosas do Evangelho é que Cristo chama seus seguidores para serem Seus representantes na Terra. João 20:21: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. O conceito de ‘ser enviado’ incorpora a realidade da intercessão, como um privilégio e uma comissão recebida das mãos de Cristo. Portanto, à medida que você estudar e praticar a advocacia, lembre-se de que você não é apenas chamado para representar o cliente, em todos os seus negócios e em todos os seus esforços, você também deve representar Jesus. Você foi enviado para ser sal e luz, para ser um embaixador do reino de Deus.
Há outra verdade poderosa que o cristianismo traz para o trabalho dos advogados como intercessores: embora muitas vezes representemos clientes perante um juiz ou outra parte, a Bíblia ensina que existe um Deus acima de toda autoridade, que é poderoso, soberano, amoroso e nos convida a estar em um relacionamento íntimo com Ele. Você já considerou que Deus está interessado em ouvir nossas orações em favor de nossos colegas, professores, clientes, juízes?
Os cristãos devem viver de maneira intencional. O que lemos na Bíblia deve corrigir e orientar toda a nossa vida, incluindo nosso estudo e prática da lei. Uma compreensão bíblica de intercessão deve, portanto, transformar o trabalho de um advogado cristão. Devemos interceder ou representar alguém diante de Deus não simplesmente porque somos pagos para isso, mas porque conhecemos a graça de Deus para conosco em Jesus e, pelo Seu Espírito, somos mobilizados como intercessores para falar com Deus em favor dos outros, e falar a outros em Nome de Jesus.
Quão significativo então é o intercessor cristão intencional! Você pode ser a única pessoa que intercede junto a Deus por parte de seu colega de curso, seu cliente, seu colega, sua comunidade. Que privilégio e responsabilidade é interceder por eles! Por quem você pode interceder hoje?
Como Charles Spurgeon disse uma vez: “Jesus sabe tudo sobre nós, mas é um grande alívio derramar nossos corações diante dele. No caso dele, não há necessidade de reserva, não há medo de que ele o trate com orgulho frio, indiferença sem coração ou traição cruel. Ele é um confidente que nunca pode nos trair, um amigo que nunca nos recusará.”
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Por: Dr. Felipe Augusto
Diretor Acadêmico da ANAJURE. Doutorando em Direito Público na Universidade de Coimbra. Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra. Especialista em Estado Constitucional e Liberdade Religiosa pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em parceria com ANAJURE, Ius Gentium Conimbrigae e Regent’s Park College da Universidade de Oxford.
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[1] Collins English Dictionary Third Edn 1991 Harper Collins Publishers, Glasgow