Líder da oposição Síria deu mais certeza sobre o caso há duas semanas
Escrito por Nuri Kino
O líder da coalizão de oposição Síria está voltando atrás em seus prévios relatos de que estaria certo da localização e condição dos dois bispos Ortodoxos Sírios sequestrados em 22 de abril.
George Sabra, presidente da Coalizão Nacional Síria, contou ao World Watch Monitor em 21 de maio que não foi informado da movimentação dos bispos dia após dia, ou da identidade dos sequestradores. Isto é uma mudança em declarações de 7 de maio atribuídas a Sabra durante um encontro de líderes do Oriente Médio em Beirute.
Sabra também contou ao World Watch Monitor que a coalizão está “fazendo seu melhor” para expelir uma quantidade de Muçulmanos que tem vindo da Europa pelo chamado de grupos jihadistas, associada com a Al Qaeda, que se contam entre o mais amplo movimento de oposição na Síria.
Yohanna Ibrahim, líder da Igreja Ortodoxa Síria em Aleppo, foi sequestrado juntamente com seu colega da Igreja Ortodoxa Grega, Boulos Yazigi, após viajarem à fronteira Turca numa tentativa de assegurar a libertação de dois padres sequestrados em fevereiro. O motorista deles, Fathallah Kaboud, foi morto mais tarde.
Fora a inicial afobação, com relatos equivocados de que os clérigos teriam sido libertados, pouco se ouviu sobre o paradeiro deles, quem os levou, ou os motivos.
Isto mudou em 7 de maio quando Amin Gemayel, ex-presidente do Líbano e atual líder do Partido Kataeb, realizou um encontro em seu escritório em Beirute, de acordo com o Lebanon Star.
“Os bispo estão saudáveis e estão sendo mantidos por um pequeno grupo numa cidade chamada Bshaqtin, 20km a noroeste de Aleppo”, contou Sabra a Gemayel por telefone durante o encontro, de acordo com o Star.
Presentes ao encontro estavam o Bispo Adjunto de Aleppo, Joseph Shabo, o Bispo Ortodoxo Siríaco do Monte Líbano, George Saliba, o Bispo de Beirute, Daniel Koriyeh e o presidente da Liga Siríaca, Habib Afram.
Afram contou ao World Watch Monitor que o grupo tinha solicitado uma reunião com Gemayel para procurar sua ajuda a fim de assegurar a libertação dos bispos. Ao invés disso, disse ele, eles ouviram Sabra contar a eles que não tinha forças para ajudá-los.
“Durante o nosso encontro, o líder da oposição Síria, George Sabra falou com ambos Cheikh Gemayel e Bispo Saliba por telefone. Sabra disse que sabe onde os bispos foram escondidos e quem os sequestrou. Em achei estranho um dos mais poderosos líderes da oposição Síria dizer que sabe onde eles estão e não fazer nada para libertá-los”.
Afram, Secretário Geral da União das Ligas Cristãs do Líbano e um proeminente defensor dos Cristãos no Oriente Médio, disse que a falta de capacidade de Sabra em assegurar a liberação dos bispos vem trazendo sérias implicações para o futuro dos Cristãos na Síria.
Sabra disse coisas como: “Isto não está dando uma boa impressão da nossa revolução e nós prometemos tomar todas as medidas possíveis para libertá-los”. “Mas são apenas palavras”, disse Afram. “Nós enfatizamos que se ele não pode controlar sua própria área, – o lugar onde os bispos foram sequestrados – então como ele pode dizer que pode mudar a Síria para melhor? E como ele será capaz de fazer os Cristãos permanecerem na Síria?”
Contatado em 21 de maio pelo World Watch Monitor, Sabra deu menos certeza sobre a situação dos bispos em relação ao que relatou em 7 de maio.
“Você sabe que os bispos sempre são deslocados dia após dia, semana após semana. Então, nós não sabemos o lugar exato”. Ele disse.
Ele também disse que a coalizão não está certa de quem está por trás dos sequestros.
“Sobre isto, nós temos diferentes informações; nós temos novas notícias que estamos verificando. Temos notícias de que eles estão em Aleppo. Nós não podemos dizer que esta informação é real. Precisamos verificá-la”.
Quando perguntado como ele sabia que os bispos eram deslocados, se ninguém havia falado com eles, e se havia qualquer evidência de que eles estavam vivos, ele respondeu: “você sabe, pelas nossas pessoas que interrogaram os grupos”.
“Realmente, nós acreditamos que eles estão vivos”, ele disse. “Mas não há evidência clara disto. Estamos fazendo nosso melhor, mas até agora não obtivemos êxito”.
Milhares de Cristãos têm fugido da violência na Síria e os líderes de igrejas dizem que os sequestros aceleram o êxodo. Sabra disse que quer que os Cristãos Sírios permaneçam corajosos.
“Nós estamos conscientes da impressão que dá à nossa revolução”, ele disse. “Mas nós estamos fazendo nosso melhor. Cristãos Sírios têm vivido no país há milhares de anos. E eles devem ter coragem suficiente para permanecer em sua terra”.
Sabra, que é Cristão, insistiu que não há evidência de que os Cristãos Sírios estejam sob pressão por conta de sua religião, apesar do testemunho contrário de Cristãos dentro da Síria e daqueles que tiveram que se exilar na Turquia, Líbano e Jordânia.
“Talvez há alguns pequenos acontecimentos aqui e ali”, ele disse, “mas nós não temos o direito de exagerar acerca deles e contá-los como fato, como verdade, da vida da Síria. Realmente não é verdade. E a única forma de proteger os Cristãos, e proteger outros Sírios, é retirar o regime de Bashar al-Assad do poder e começar uma nova era na Síria com um Estado civil, Estado democrático, com eleições, constituição, uma lei. Esta é a única coisa com a qual iremos ajudar todas as pessoas na Síria a serem protegidas em seu país”.
Sabra também rejeitou quaisquer comparações do impacto da guerra civil na Síria ao êxodo de Cristãos da nação para o vizinho, Iraque.
“Nós temos aqui duas principais diferenças na Síria”, disse ele. “O Iraque está ocupado por tropas estrangeiras, e também tem um vizinho considerado como inimigo há vários anos, o Irã. Então, o efeito da ocupação e o efeito de Iranianos dentro do Iraque causam a situação. Na Síria, nós temos algo diferente. Estou certo de que os Cristãos ficarão e viverão na Síria como assim fizeram por centenas de anos. É o país deles. Na Síria, nós temos milhares de igrejas e ninguém pode provar ou dar um exemplo uma igreja sendo perseguida por Muçulmanos”.
Ainda, quando pressionado, Sabra reconheceu uma similaridade ao Iraque, de grande preocupação dos habitantes: a presença de militantes Islâmicos estrangeiros, alguns deles associados à Al Qaeda. Um relatório de abril do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização, na London King College, estima que menos de 10% dos militantes da oposição estão fora da Síria, e que entre 7 e 10% dessa fração vem da Europa.
“Nós lamentamos ouvir isto”, disse Sabra. “Nós fomos informados sobre dois jovens da Bélgica. Acredite, nós estamos fazendo o nosso melhor em contatar estas pessoas e trabalhar com a comunidade Europeia e governos Europeus para salvar suas vidas e os enviar de volta para suas casas em seus países em segurança”.
Entretanto, Afram disse que se reúne com Cristãos que deixaram a Síria todos os dia em seu escritório no Líbano. “Pessoas são sequestradas diariamente por resgate ou apenas para assustar e afugentá-los”, afirmou. “Cristãos são sistematicamente alvos de sequestros”.
Ele disse que se os bispos estão vivos, Sabra deve empregar o poder de sua posição para conseguir libertá-los.
“George Sabra deve agir e mostrar sua capacidade de liderança, ou sair”, disse Afram. “Ele deve ter envolvimento direto, mesmo correndo riscos e ir com o exército da oposição para negociar a libertação dos bispos. Fazer uma clara declaração de sua objeção ao tratamento dispensado aos bispos”.
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Fonte: World Watch Monitor
Tradução: Jorge Alberto