Neste mês de outubro, a ANAJURE foi citada por dois veículos de imprensa, gerando nesta segunda-feira (19) a necessidade de um posicionamento institucional.
Um dos veículos trata-se da revista Piauí, com reportagem escrita pelo competente jornalista Luigi Mazza (leia a matéria neste link), que acompanhou a ANAJURE por meses, checou documentos, conversou com Diretores, e fez uma cobertura que reflete um trabalho jornalístico sério e aprofundado. Como é natural, a ANAJURE não concorda com o inteiro teor do texto publicado na Revista, nomeadamente quanto às interpretações feitas do trabalho que realizamos. Todavia, de maneira geral, a matéria foi respeitosa, inclusive em suas críticas, esperadas dentro de um ambiente plural e ideologicamente diverso.
A segunda postagem a que fazemos menção foi veiculada no último domingo (18), pelo portal The Intercept Brasil. A coluna do jornalista e cientista político João Filho tratou da atuação da ANAJURE, afirmando que há em curso a implantação de uma “teocracia” no país, e que o trabalho de defesa da liberdade religiosa é apenas uma fachada para atingir esse objetivo, desrespeitando o Estado Laico. Sobre essa coluna, seguem alguns comentários, necessários à elucidação da verdade e combate às Fake news:
1) Inicialmente, pontuamos, com lamento, que o jornalista em nenhum momento procurou a assessoria da ANAJURE, seja para prestar algum esclarecimento, ou simplesmente para facultar a possibilidade de resposta, como informa o manual básico do bom jornalismo que se pretende imparcial e íntegro. Basta dizer, dentre as diversas informações incorretas trazidas sobre a organização, que a ANAJURE “É um grupo formado por calvinistas”. Na verdade, a entidade é formada por membros de igrejas pertencentes a diferentes linhas teológicas dentro do segmento evangélico, algo que facilmente se verifica no site da instituição, demonstrando que o jornalista não se deu ao trabalho de checar informações básicas.
2) A coluna menciona, em diversos momentos, a reportagem da Revista Piauí – inclusive, contém mais referências à Piauí do que a manifestações da ANAJURE – e a partir dela tece suas considerações. Portanto, a coluna foi construída sobre uma fonte secundária, em que o autor, aproveitando-se do trabalho de outro jornalista, fez suas próprias interpretações e conclusões, indo em sentido contrário, mais uma vez, ao que se presta o jornalismo comprometido com a verdade e o contraditório.
3) O colunista utiliza termos como “teocracia”, “estado laico” e “calvinismo” sem apresentar definições ou esclarecimentos sobre seus significados. Na verdade, as terminologias são usadas para ilações com o único objetivo de trazer desinformação e pintar uma imagem distorcida sobre o trabalho da entidade. Uma leitura, mesmo que superficial, das manifestações da ANAJURE mostram o comprometimento institucional com a separação entre Igreja e Estado, um corolário, frise-se, da Reforma Protestante, que desenvolveu-se como um dos princípios constitucionais fundamentais do nosso país.
4) Não nos prestaremos ao trabalho de refutar e demonstrar a verdade sobre cada ilação trazida na coluna, mas, de forma geral, a coluna busca passar a mensagem que há um alinhamento – mais ainda, subordinação – entre o Governo atual e a ANAJURE. Além de a reportagem ser contraditória em seus próprios termos, pois reconhece que a ANAJURE efetuou ações de diálogo e cooperação com o governo Dilma – e isso se deu especialmente em ações de cooperação para reassentamento de refugiados vítimas de perseguição religiosa – o repórter não menciona as manifestações públicas em que discordamos, com o respeito e transparência necessários, de ações tomadas no âmbito do Governo Federal, como recentemente aconteceu, por exemplo, no caso das declarações do Presidente da República sobre um Pastor evangélico ocupando assento no Supremo Tribunal Federal, ou as afirmações a respeito da Operação Lava-jato. A ANAJURE possui uma agenda própria, princípios e valores inegociáveis, e independência político-partidária.
5) Reiteramos nosso compromisso com a liberdade de expressão e liberdade de imprensa, porém, esses direitos não podem ser utilizados como subterfúgio para desinformação e disseminação de Fake News. Nesse sentido, o nosso Departamento Jurídico tomará as medidas cabíveis para fazer valer as garantias constitucionais de direito de resposta, bem como para investigar eventuais atos de intolerância e preconceito com base na religião advindos da repercussão da coluna.