Onda de sequestros atormenta egípcios

Duas famílias cristãs contam a história de como perderam suas filhas


EGITO


Ela era uma senhora idosa e sua perna estava doendo. Até que estendeu sua mão. “Por favor, ajude”, disse. Magda pegou a mão da mulher, e levou-a para um carro que a estava esperando. Neste momento, a estudante de 19 anos de idade tornou-se, em 2 de junho, outra entre centenas de cristãos egípcios capturados em uma onda de sequestros desde a queda do governo de Mubarak, em 2011.

Os números não são precisos, e em parte isto ocorre por causa da falta da aplicação de leis em todo o Egito desde a revolução de 2011, e em parte porque alguns sequestros não são relatados. Somente em uma província, Minya, mais de 150 pessoas foram sequestradas durante os últimos dois anos, de acordo com a Associated Press, que citou um funcionário anônimo do Ministério do Interior.

O ministério afirmou que o número de sequestros cresceu 145 por cento de 2011 a 2012 em todo o país. A Associação de Vítimas de Sequestro e Desaparecimento Forçado afirma ter registrado 500 casos em todo o Egito, relatando que muitas meninas Cristãs Coptas foram sequestradas desde o início de 2011.

Os cristãos não são as únicas vítimas. Os ricos – um grupo onde os Cristãos Coptas do Egito têm sido bem representados – são alvos naturais. Muitos dos sequestros ocorreram em regiões do sul do país, onde a concentração de Cristãos é maior.

Os líderes da Igreja e ativistas de direitos humanos dizem que o governo do Egito, que estava sendo dominado nos níveis federal e regional pela Irmandade Muçulmana, criou espaço para criminosos caçarem cristãos com medo da perseguição.

A frustração Cristã era apenas uma das queixas que milhões de egípcios levaram às ruas durante os recentes protestos. Fartos de uma economia em ruínas, escassez de combustível, ilegalidade e um governo construído sobre uma constituição Islâmica, estes protestos tiraram o presidente Mohamed Morsi do cargo.

Se o ritmo de sequestros vai mudar durante a transição do novo governo, ainda é uma incógnita. Uma semana antes dos protestos o World Watch Monitor falou com duas famílias cristãs cujas filhas foram raptadas. De acordo com eles, aqui está o que aconteceu:

 

Magda

Magda

Magda Adel Gameel, 19 anos, em seu último ano de Ensino Médio na cidade de Assyut, no sul da província de mesmo nome, tinha acabado de terminar uma aula de árabe com seus amigos. Ela pediu-lhes para que a esperassem na Igreja Anba Magar enquanto fazia um pedido numa farmácia nas proximidades. Era 19 horas, ainda durante o dia.

Ao sair da loja, Magda encontrou uma idosa de véu, que se queixava de dor na perna e a pediu para ajudá-la na caminhada até seu carro. Magda caminhou com ela até um carro num beco e a ajudou até vê-la bem acomodada.

Assim que Magda entrou no veículo, lançaram um spray com algo que a nocauteou. Durante a viagem ela começou a voltar a si e lançaram o spray novamente.

Ela acordou em um quarto vazio. Seu colar, bolsa e celular haviam desaparecido.

A mulher de véu entrou na sala com um pouco de comida, e Magda falou em tom de protesto. A mulher ordenou que ela permanecesse em silêncio. Durante as idas ao banheiro, os olhos de Magda eram vendados.

Uma semana se passou. A mulher com véu voltou, e desta vez pediu para Magda chamar seu pai e entregar um pedido de resgate. A mulher ligou para o telefone.

Magda o tomou. Um homem respondeu com voz estranha.

"Este não é o meu pai", disse à mulher com o véu. A mulher bateu em Magda, e ordenou-lhe exigir o pagamento de resgate. Magda fez o que lhe foi dito, mas o homem disse que sua filha não tinha sido sequestrada, e que ela estava com ele.

A mulher pegou o telefone e saiu da sala. Magda ouviu vozes altas.

Eles tinham pego a Magda errada. O homem ao telefone, chamado Ibrahim, era rico e tinha uma filha também chamada Magda. Esta Magda, no entanto, veio de uma família menos abastada.

Em 11 de junho, a mulher com véu entrou no quarto, e apagou Magda com o spray.

Ela tornou a si perto de uma estrada no deserto e começou a orar, até que viu um táxi na estrada. Foi então que acenou, e disse ao motorista a história.

"Onde estamos?", Magda perguntou ao motorista. Eles estavam na Rodovia do Deserto Cairo-Alexandria, perto de Alexandria, no norte do Egito. O táxi levou-a para a cidade, onde ela chamou seu pai.

Ele prestou queixa na polícia, mas não deu em nada. Magda, em casa e segura, tinha perdido suas provas finais.

 

Jessica

JessicaJessica Nady Gabriel, 7 anos, foi com sua família no dia 02 de junho para uma festa de casamento de um tio e sua nova esposa no Salão de Casamento Saraya, em Talkha, cidade do rio Nilo no norte do Egito.

A festa continuou à noite. E por volta das 22 horas a família procurou por Jessica em todos os lugares. Em seguida, o pai foi até a delegacia de polícia para denunciar seu desaparecimento.

Nos quatro dias seguintes centenas de Coptas se reuniram em frente à delegacia de polícia de Talkha. Poucos dias depois, os sequestradores entraram em contato com a família.

Eles exigiram 650.000 libras egípcias. Isto é cerca de 12 vezes o montante que um egípcio de classe média ganha em um ano.

A família e os parentes reuniram seu dinheiro, apesar de não dizer o quanto, e pagou os sequestradores.

A menina foi devolvida no dia 21 de junho.

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FONTE: WORLD WATCH MONITOR
TRADUÇÃO: TÉRCYO DUTRA 

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