A ascensão do extremismo islâmico na Ásia Central e no Cáucaso

Nova onda de radicalismo demonstra que a região passa por transição política e social.

 

Samarkand
 

O extremismo islâmico na Ásia Central e no Cáucaso irá se agravar ainda mais nos próximos anos, prevê um novo relatório de uma integrante do Programa Rússia e Eurásia da Chatham House, Anna Münster.

A retirada americana do Afeganistão em 2014, além de mudanças no regime esperados no Cazaquistão e Uzbequistão, podem ocasionar a desestabilização na região. Isso por que este fatos podem se tornar uma plataforma para que aos radicais possam operar, de acordo com o relatório "Crescimento do Extremismo Islâmico na Ásia Central e no Cáucaso – Situação e Perspectivas”. O Cáucaso pode ser definido pela região da Ásia e Europa Oriental, entre o Mar Egeu e o Mar Cáspio.

De acordo com Münster, que atua no instituto britânico de relações internacionais, a situação é ainda mais complicada, com o desdobramento do "Novo Grande Jogo" na Ásia Central. Essa nomenclatura é dada à segunda parte do da história do século 19 e início do século 20, período em que a Grã-Bretanha e Rússia disputavam o poder na região.

O relatório, escrito para o World Watch List – responsável pelo ranking dos 50 países nos quais a perseguição de cristãos é mais intensa – traça as raízes do Islã na Ásia Central e na região do Cáucaso ao Daguestão, no século XVII. A religião islâmica, no entanto, tem tomado diversas de formas nos diferentes países nesse período analisado.

De um modo geral, o islamismo sunita é o que agrega mais seguidores. Münster afirma, entretanto, que a religião se manifesta de acordo com respostas tanto individuais quanto coletivas para determinadas facções do Islã.

Grupos extremistas como o Hizb Ut-Tahrir e a Irmandade Muçulmana, bem como o chamado "Culto ao Martírio", tornaram-se um fator unificador e mobilizador para os jovens muçulmanos. Segundo os relatos, este jovens muitas vezes se encontram insatisfeitos com sua situação política e socioeconômica.

A ideia de que o Islã vem crescendo, como uma resposta à desilusão sofrida pela população, é observada muitas vezes na região. A existência de um sentimento de solidariedade entre os muçulmanos da Ásia Central e do Cáucaso que se sentem vitimados pelo Ocidente e acreditam estar submetidos a uma "grande conspiração contra o mundo muçulmano" é uma prova disso.

Este sentimento de solidariedade se perpetua, segundo Münster, por meio da guerra – sejam as guerras no Afeganistão e no Iraque ou mesmo os conflitos na Chechênia e na Bósnia. "O avanço do islamismo político nas últimas décadas na região é frequentemente descrito como uma resposta às reclamações, desafios e conflitos locais", escreve ela.

Münster prevê que a retirada das tropas americanas do Afeganistão poderá ter um efeito desestabilizador em toda a região. Isso pode ocorrer da mesma forma que o colapso da União Soviética desempenhou um importante papel no crescimento recente do Islã, e do extremismo islâmico.

A repressão dos muçulmanos por parte da União Soviética, que tinha "mesquitas fechadas e clérigos exilados ou mortos", e o surgimento de novos estados independentes, como a Armênia, Geórgia e Azerbaidjão, levou as "expressões islâmicas locais a se desenvolver sob influências estrangeiras", ela escreve.

Essas influências vão desde a pacificação até a política, com o estabelecimento de uma série de organizações internacionais na região. Cada país reagiu de forma diferente, diz Münster, dependendo, entre outras coisas, de sua interpretação do Islã e da medida em que eles se tornaram secularizados durante a era soviética.

Como vários poderes globais disputam o acesso à riqueza de recursos naturais na Ásia Central e no Cáucaso, a estudiosa relata diversos exemplos modernos de corrupção e suborno.

Ela destaca como ponto notável um "fechamento dos olhos" frente aos abusos de direitos humanos no Uzbequistão, onde os governos ocidentais têm interesses escusos. Lá, diz, os islâmicos têm sido submetidos à brutalidade e à tortura nas prisões. "Mesmo aqueles que nunca foram engajados em ações violentas e foram [presos] simplesmente por possuir um folheto do Hizb ut-Tahrir".

A tortura é muitas vezes "sistêmica" e "profundamente perturbadora", escreve ela. Ao mesmo tempo, alerta que, apesar de os eventos da Primavera Árabe possa representar uma real advertência aos governos repressores de hoje, a "extensão do controle do governo sobre a vida, incluindo a vida religiosa, é um resquício dos tempos soviéticos”.

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Fonte: World Watch Monitor
Tradução: ANAJURE

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