Uma facção estrangeira do Jihad foi reconhecida como autora do ataque à Igreja Católica Nossa Senhora de Fátima, situada no Km 5, distrito de Bangui, República Centro-Africana, ocorrido em 28 de maio, o qual deixou um saldo de 18 mortes, incluindo a do sacerdote Paul-Emile Nzale, de 78 anos.
De acordo com o relato de testemunhas, o ataque começou com o lançamento de granadas dentro do complexo da igreja, e foi seguido por 30 minutos de ininterrupto e indiscriminado tiroteio. No momento do ataque, a igreja estava abrigando aproximadamente cinco mil refugiados e desabrigados e era o lugar de refúgio tanto de cristãos quanto de mulçumanos. Testemunhas oculares também disseram que seus agressores falavam em inglês e levaram pelo menos 42 pessoas como reféns, algumas das quais devem ter sido mortas.
A Seleka é há muito conhecida por incluir chadianos e sudaneses em suas fileiras, contudo em fevereiro de 2014, após ampla cobertura da mídia internacional, na qual as forças anti-Balaka foram descritas como “milícia cristã”, o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, ameaçou de vingar o que ele chamou de o massacre na República Centro-Africana de mulçumanos pelos cristãos. Subsequentemente, foi reportado que centenas de fulanis chegaram no norte da República Centro-Africana em carros, a cavalo e à pé, durante a semana iniciada em 21 de abril.
Em um comentário feito à Agência de Notícias Católica Fides a respeito de se terem avistado jihadistas estrangeiros na área do Km 5, o Bispo Nestor Desire Nongo-Aziagbia, bispo de Bossangoa, disse: “Apesar das autoridades fingirem não notar, muitos centro-africanos sabem que terroristas jihadistas oriundos do Sudão e da Nigéria têm se infiltrado na Seleka e estão agora no distrito do Km 5. Ao comparar o anti-Balaka a cristãos, a mídia ocidental ofereceu a esses criminosos um perfeito veículo de propaganda”.
Após o ataque à igreja católica de Nossa Senhora de Fátima, jovens tomaram as ruas de Bangui, em 29 de maio, protestando contra a falta de proteção oferecida pelas tropas pertencentes à Missão de Apoio Internacional na República Centro-Africana (MISCA). Alguns manifestantes, que segundo boatos são membros da milícia anti-Balaka, saquearam e cometeram atos de vandalismo em uma mesquita na vizinhança de Lakouanga. Contudo, não houve relato de mortes.
O ataque à igreja Nossa Senhora de Fátima se deu ao final de uma semana de reconciliação organizada por igrejas em Bangui, aproximando as comunidades mulçumana e católica. Enquanto os grupos anti-Balaka têm sido geralmente descritos como milícia cristã, suas ações têm sido condenadas pela igreja na República Centro-Africana, a qual tem feito um apelo à paz, ao desarmamento de todos os grupos armados e à reconciliação nacional.
A morte do Padre Nzale é o último incidente dentre os atentados ao clero. Na Páscoa, o Padre Chris Forman Willibona e o Reverendo Thomas Ndakouzou foram mortos em ataques distintos em 18 e 19 de abril, respectivamente. O bispo de Bossangoa, Monsenhor Nestor-Desire Nongo Aziagbia, foi raptado juntamente com três membros do clero, em 16 de abril, por militantes Seleka. Os membros do clero foram, após algum tempo, libertados próximo à fronteira de Chade, depois de intervenção da comunidade internacional. Em Bangui, a Igreja Apostólica de Gbaya Domia e a Igreja Batista Dombia foram atacadas em 8 e 17 de abril, respectivamente. Em abril, o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou a favor do envio de uma pesada Força de Paz de 12 mil integrantes para a República Centro-Africana, em Setembro de 2014, para reforçar a segurança em todo o país e ajudar a garantir ao governo interino a instituição de eleições democráticas no início de 2015.
Mervyn Thomas, Diretor Executivo da Christian Solidarity Worldwide (CSW), disse: “Nossas condolências, pensamentos e orações são para com as famílias daqueles que perderam suas vidas. A CSW condena o ataque insano a civis desarmados e vulneráveis e deplora o ataque e destruição de locais de adoração, independente de qual seja o credo. Nós apelamos por proteção adequada para os alojamentos de refugiados e continuamos a fazer eco ao clamor dos líderes religiosos no país que estão trabalhando incansavelmente pela reconciliação em face de implacáveis atrocidades. Nós também clamamos pelo aumento da assistência da administração do Presidente Interino Samba-Panza em seus esforços para desarmar os vários grupos de milícia, para encorajar a reconciliação e facilitar o retorno de um milhão de cidadãos deslocados aos seus lares”.
_________________________
FONTE: CSW
TRADUÇÃO: Jamile Baltar l ANAJURE